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Educação

A hilariante reforma do ensino médio

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Luis Carlos Alcoforado

O Brasil mostra a mediocridade de sua elite ao ensaiar o novo conceito da reforma educacional do ensino médio.

Ressalte-se que qualquer reforma se impõe em face da falência do modelo atual e das fracassadas tentativas de formatar as condições materiais e imateriais de um ensino de qualidade, em todos os níveis.

A proposta começa pelo meio, não pela base, ensino e educação para quem começa a árdua luta para superar as graves defectividades do sistema pedagógico brasileiro.

E, com mais hilariedade: por meio de medida provisória, o que se confunde numa grande provocação à comunidade, como iniciativa casuística, unilateral e sem aprofundamento com universo de interlocutores interessados em tema que cuida do futuro da nação.

Parece que, por força da condução formal, se trata de mais uma reforma provisória, sem horizonte da consistência e perseverança de propósito, sob a influência do convencimento teorético e suportado pela práxis.

Reforma-se porque se diagnostica patologia crônica que soterra a esperança de revolucionar a educação como único recurso para ofertar a cidadania.

A formalização da reforma, encaminhada pelo Poder Executivo, agrava a compreensão segundo a qual a educação consiste no mais relevante e essencial problema brasileiro, jamais corrigido ao longo de séculos.

A cada crise da falência da educação, surgem fórmulas pedagógicas mágicas e improvisadas, como se fôssemos laboratório tardio, já envelhecido por soluções que se prestam a curar os erros da exclusão de um sistema que jamais foi democrático, plural e qualificado.

A elite se apropriou da geração e da produção da educação que interessava ao seu domínio de classe social, sob o conforto de que a ignorância ou a deseducação repercutiria o poder patrimonial, conservado pelo controle dos instrumentos estatais de formulação de políticas de universalização da igualdade de acesso e de meios.

A natureza do sistema da educação não foi capaz de dialogar com o poder de prospectar as virtudes ou os predicativos ínsitos dos estudantes, tratados como se fossem uma unidade sem particularidade.

A educação brasileira jamais abriu diálogo funcional com as idiossincrasias da complexa nacionalidade, com base nas diferentes formas de viver de uma riquíssima diferença de culturas e de hábitos, enraizados pela influência da colonização dos brancos, dos negros e dos índios, amalgamados pela docilidade das necessidades dos ciclos econômicos e sociais.

Do Brasil colonial, período em que se inibia a constituição de aparatos formais de propagação da educação e do conhecimento, ao Brasil dos desgovernos da educação, da Velha à Nova República, somente ensaios são articulados, sem que se alcancem resultados que elevem o nível de civilidade e cidadania.

O Brasil continua na incômoda posição do fracasso de todas as tentativas de educar o povo, principalmente as crianças e os adolescentes.

Sobejam recursos, mas se escasseiam consciências que aprimorem a fundamental importância do aglutinador e fomentador da educação: o professor, o mestre, o ser responsável pela paixão ao conhecimento, figura maltrapilha, desprestigiada e indesejada, lamentavelmente, como profissão.

É censurável que, a cada ciclo, os ocupantes do poder, legítimos ou ilegítimos, renovem fórmulas educacionais, sem que as questões nucleares sejam enfrentadas.

Faltam estruturas materiais decentes por força das quais o aluno se sinta estimulado a estudar, a pensar, a ter prazer em ir à escola, quase todas sucateadas, empobrecidas, abandonadas, mais capacitadas a fomentar práticas delituosas do que pedagógicas.

Professores adoentados e desestimulados, porque são profissionais indesejados pelo Estado irresponsável e criminoso e rejeitados pelos alunos, sem convicção quanto ao papel do mestre, ao vê-los maltrapilhos e fracassados na escala do poder social.

O professor não é mais o guia, o orientador da sabedoria, da educação, da virtude, mas apenas um funcional, que cumpre agenda e calendário de operário, sem qualquer inspiração acadêmica ou cultural.

Estar na sala de aula porque tem que cumprir o papel de fingir ser professor, desestimulado e burocratizado por um sistema que emburrece a vocação infinita para o domínio do conhecimento sem fronteira.

Reforma educacional que esquece o professor é arremedo, maquiagem, reprodução equívoca de modelos, porque, em todos os países de grande calado pedagógico, o mestre é a pessoa cardeal do sistema, a quem o Estado deveria devotar todas as forças, para vencer a pobreza que escraviza o homem.

No caso da reforma do ensino médio, o professor e a escola figuram como peças acessórias, sem muita importância, como se a grade curricular flexibilizada bastasse para recuperar o tempo perdido.

É manifesta a improvisação ou o plágio, mas há, pelo menos, a tentativa de identificar qualidades ou propriedades nos estudantes, aos quais se confiou prerrogativa de construir as sendas do conhecimento, segundo a vocação, exceto quanto à matemática, português e inglês, disciplinas obrigatórias.

Mas, para o burocrata, ou improvisador de plantão, educação física e artes torturam a necessidade!

Aqui, mais do que derrapagem, a proposta agride a importância da atividade física, importantíssima para a mente, e o exercício lúdico das artes, escala construtiva na emancipação dos valores humanais.

Inexiste homem sem arte, salvo se os tempos da mediocridade policialesca e repressora, como inibidora da elevação espiritual dos povos, se conjugassem com a visão rota e amesquinhada do novo programa da educação brasileira.

Atividade física não deve ser obrigatória apenas para quem estuda, mas para todos, pela inegável importância na saúde de um povo.

Sociedade que carece de mecanismos próprios de fomentar a produção artística está fadada a desconhecer seus valores e sua cultura, para franquear a presença indefinida do vazio existencial.

O Brasil precisa de homens de estatura para pensar o Brasil, como a última passagem para a contemporaneidade em que se possam afirmar seus valores, em busca do crescimento econômico e social, com o intuito de reduzir as zonas abissais que marcam a desigualdade na educação.

Mas, atenção! É a educação que faz o homem do futuro.

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