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Cidadão e amigo

Abdias Silva, a água do saber do repórter

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José Escarlate

Uma das grandes alegrias que tive na EBN foi a contratação de Abdias Silva como editor nacional. Abdias era um dos luminares do jornalismo brasileiro e foi “cobra” em todas as redações por onde passou. A todo instante estava a nos orientar, pela sua inegável experiência, indicando os rumos a seguir. Assim como outros companheiros, como o Geraldo Seabra, o “Seabrão”, também o Abdias teve negada sua credencial no Palácio do Planalto.

Cisma de milico, mas permaneceu na EBN, fazendo com que a redação inteira bebesse daquela água de saber. Companheiro nos bancos escolares em Campo Maior, Piaui, onde nasceu, de Francelino Pereira e Carlos Castelo Branco, seguiu o caminho deles em busca de um futuro. Francelino foi para Minas e Castelinho, Rio. Abdias acalentava o sonho de ir para o Sul. Ainda não tinha 20 anos quando escreveu carta ao escritor Érico Veríssimo, de quem era admirador, e que morava em Porto Alegre, pedindo uma chance.

Bomba atômica? – A carta deixou Érico tão entusiasmado que enviou telegrama “Via Western”, para Abdias, dizendo: “Venha, já acertei com o Breno Caldas um emprego para você no Correio do Povo”. Caldas era dono do jornal. Vendeu seus livros para comprar a passagem a São Luís e embarcou no Itanagé para Porto Alegre.

Recebido por Veríssimo, Abdias indagou a razão do seu gesto, em ajudá-lo. “Eu nunca tinha visto um piauiense antes”- respondeu o escritor. Homem simples, importante jornalista da sua época, Abdias muitas vezes substituiu Castelinho escrevendo a “Coluna do Castelo”, no Jornal do Brasil.

Firme no comando da redação, Abdias costumava orientar seus repórteres no sentido de que “qualquer notícia, mesmo a mais importante, caberia em 30 linhas. Se explodisse uma bomba atômica” – dizia rindo – “vai ter tão pouca gente pra ler, que 30 linhas continua sendo um bom tamanho pra contar a história…”.

Cidadão e amigo – Dia 8 de fevereiro de 1984 Abdias entra no meu aquário para despedir-se. Estava deixando a EBN, para o merecido repouso do guerreiro.

Dizia, em sua carta de demissão, que reproduzo: “Meu caro Escarlate. No momento em que peço encaminhar ao Diretor-Presidente desta empresa o meu pedido de demissão, levado por interesses particulares, cumpro também o dever moral de lhe manifestar o quanto me foi grato trabalhar sob sua chefia imediata. Considero que esse convívio profissional de 17 meses foi para mim um privilégio e nele vi crescer a admiração que já lhe votava como profissional de imprensa, como cidadão e como amigo. Onde quer que eu esteja conte com a minha afeição. Abdias Silva”.

PV

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