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Afinal, o PT encarnado em Lula, é o pai ou o padrasto dos pobres mortais brasileiros?

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Celso Lungaretti

Um dos aspectos mais chocantes do período em que o Partido dos Trabalhadores impôs sua hegemonia sobre a esquerda brasileira foi a passividade com a qual esta aceitou o entrelaçamento de interesses com os mais predatórios segmentos da burguesia e com os mais repulsivos inimigos da liberdade.

Práticas que, quando adotadas pelos adversários de direita, eram denunciadas como emblemáticas de sua condição de inimigos do povo, passaram a ser copiadas descaradamente pelos mandatários do PT e toleradas pela companheirada como um preço a ser pago pela governabilidade.

Duas delas foram esmiuçadas pelos jornalões paulistas neste final de semana. O Estado de S. Paulo, em editorial do sábado (16), constatou que vultosos recursos públicos foram generosamente doados pelos governos petistas não apenas para os companheiros empresários, mas também para os camaradas banqueiros:

“Sabia-se que as centenas de bilhões de reais que, entre 2009 e 2015, o Tesouro repassou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar investimentos não estimularam o crescimento, mas beneficiaram muitas empresas escolhidas pelo governo do PT, daí o programa ter sido chamado de bolsa-empresário, uma ajuda financeira do poder público para grupos empresariais preferidos do Palácio do Planalto.

O que pesquisas recentes demonstram é que não foram apenas as empresas selecionadas pela administração petista que ganharam com esse imenso desperdício de dinheiro público. Mesmo dispondo de condições bastante favoráveis para administrar os recursos do Tesouro (que assumiu os subsídios implícitos nas operações), o BNDES ficou com uma parcela reduzida dos resultados desses financiamentos. Os bancos comerciais que realizaram as operações em seu nome se apropriaram de mais de 80% dos rendimentos. O programa transformou-se, também, numa espécie de bolsa-banqueiro.

…o Tesouro emitiu títulos de dívida pública para transferir R$ 520 bilhões ao BNDES. Esses recursos deveriam ser utilizados no financiamento de máquinas e equipamentos, de modo a estimular a produção e, assim, reativar a economia. O PSI [Programa de Sustentação do Investimento] deveria durar um ano, mas foi sendo renovado seguidamente até o fim do ano passado, quando o governo petista resolveu enterrá-lo.

Foi de grande valia para um grupo de empresas, mas, apesar de sua longa duração, de sete anos, e, sobretudo, do montante que envolveu, não teve resultados expressivos para o País. A economia não se recuperou e, desde meados de 2014, está em recessão…

…Levantamento feito pelo economista José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, mostra que os bancos comerciais (…) se apropriaram de mais de R$ 8 bilhões dos R$ 10 bilhões de spreads que as operações geraram. O BNDES, assim, ficou com menos de R$ 2 bilhões”.

E, na Folha de S. Paulo dominical, ficamos sabendo que o malfadado projeto de transposição do rio São Francisco, uma descarada maracutaia em benefício do progressista agronegócio, continua detonando orçamentos e prazos:

“Sérias dúvidas sobre a capacidade do rio São Francisco de gerar água suficiente para a bilionária obra da transposição fizeram o governo lançar um novo programa de revitalização do rio.

Batizado de Novo Chico, (…) o programa visa terminar obras de saneamento nas cidades na bacia do rio, desassorear o leito e recuperar mananciais, entre outras intervenções. Estão acertados gastos de, no mínimo, R$ 10 bilhões até 2026.

Mas o valor vai aumentar porque o governo ainda trabalha no orçamento de algumas intervenções, como dragagem, e também pedirá aos Estados da região que invistam mais recursos no projeto…

…quase dez anos depois [do lançamento do programa], o governo já gastou R$ 10 bilhões na obra dos canais e R$ 2,2 bilhões na revitalização, e nenhuma delas está pronta. Além disso, em ambas há suspeitas de desvio de recursos, corrupção e ineficiência. A construção dos canais é alvo da Lava Jato”.

Admito, humildemente, que passei batido pela bolsa-empresário e pela bolsa-banqueiro no momento em que deveriam ter sido contundentemente denunciadas e combatidas. Mea maxima culpa.

Mas, quanto à bolsa-agronegócio, esta foi objeto de uma infinidade de artigos, principalmente durante a greve de fome do bispo Flávio Cappio, com a qual me solidarizei. Em dezembro de 2007, cobrei incisivamente uma postura mais digna e combativa por parte da esquerda:

“Passamos a vida recriminando a sordidez da política oficial e as negociatas que colocam recursos públicos a serviço de interesses privados. Como procedemos, no entanto, quando um bispo sexagenário ousa confrontar os abutres que saqueiam uma das regiões mais miseráveis do País e arrisca a vida em defesa do seu rebanho? O que estamos fazendo para apoiar esse altaneiro desafio às práticas viciadas e viciosas de nossa democracia? Pouco, quase nada”.

E, em carta aberta a Lula, botei o dedo na ferida:

“A relutância extrema do seu governo em discutir a interligação das águas do rio São Francisco é evidência gritante de que tal projeto não sobreviveria a um debate franco. E reforça as suspeitas de que haja interesses escusos envolvidos.

Cidadãos de reconhecida competência e credibilidade apontam falhas de todo tipo: concepção equivocada, relação custo/benefício muitíssimo pior que a de projetos alternativos, danos ecológicos que podem se tornar catastróficos. Por que tanta insistência, a ponto de tocar a obra com soldados, evocando os tempos sinistros da ditadura militar?”

Hoje salta aos olhos que os opositores do faraônico projeto sempre estiveram certos. E que as suspeitas por eles levantadas tinham tudo a ver, pois tal elefante branco, inicialmente orçado em R$ 4,6 bilhões, já consumiu R$ 12,2 bilhões e agora somos informados de que vai exigir, pelo menos, outros R$ 10 bilhões. Ou seja, o estouro se encaminha para a casa de 400% e nada nos garante que ficará por aí…

Esta fase do amoralismo petista no poder será lembrada pela verdadeira esquerda como motivo de terrível vergonha e como anos totalmente perdidos para a revolução brasileira.

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