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Agnelo, abatido para o Senado em 2006, compra jazigo pertinho do céu

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Jazigo é popularmente conhecido como destino perpétuo dos que morrem. Mas também é sinônimo de mina, de onde se tira ou se guarda dinheiro; e que serve, ainda, para esconder alguma coisa. Agnelo Queiroz, embora abatido na guerra por uma cadeira no Senado em 2006, nem por isso deixou de realizar mais uma proeza.

Naquele ano, poucos dias após o resultado que mostrou a vitória de Joaquim Roriz nas urnas, na dobradinha que elegeu o velho cacique senador, e José Roberto Arruda governador, o hoje ocupante do Palácio do Buriti incorporou ao seu patrimônio, por meio de laranjas, um lugar pertinho do céu.

Quem conta é o ex-soldado da Polícia Militar do Distrito Federal João Dias, no depoimento feito a Notibras. A entrevista começou a ser editada na semana passada. Agora é apresentado um novo trecho do que se convencionou chamar de dossiê.

A mina de Agnelo Queiroz é uma suntuosa cobertura erguida em uma das áreas mais valorizadas de Águas Claras, a cidade-eldorado da capital da República. O imóvel foi comprado à Lopes Royal, com pagamento cash. Sobras de campanha, diz João Dias.

João Dias sabe o que diz. Afinal, ele esteve ao lado de Agnelo ao longo dos últimos 10, quem sabe 12 anos. “Trabalhei como assessor pessoal dele a partir de 1998. Acompanhava o Agnelo na maioria dos eventos e reuniões”, afirma o ex-soldado.

Segundo o hoje desafeto do governador, não havia vínculo empregatício. “Era uma relação extraoficial, fruto da amizade iniciada nos primórdios da Câmara Legislativa. Nos tornamos amigos e com o tempo passei a ser colaborador e confidente dele”, enfatiza João Dias.

– Desde 1990, eu já o conhecia, não intimamente, mas já conhecia. A aproximação se deu com a criação da Câmara Legislativa, quando eu trabalhava com o deputado Padre Jonas. Eles foram eleitos para a mesma legislatura. Naquela época já tínhamos alguns encontros. Não é de hoje.

A relação ficou mais profícua, ressalta João Dias, quando Agnelo Queiroz assumiu o Ministério do Esporte. “Eu dirigia a Federação de Kung Fu do Distrito Federal e desenvolvemos projetos em parceria”.

Os dois continuaram juntos após a derrota na campanha ao Senado em 2006, quando Agnelo foi nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma diretoria da Anvisa. Foi a partir de 2006, ainda de acordo com as revelações de João Dias, que o governador começou a mostrar seu lado de corruptor e corrupto promíscuo.

– Até o fim de 2010, quando finalmente conseguimos elegê-lo governador, eu tinha Agnelo como um deus grego. Depois veio a decepção. É um charlatão, estelionatário eleitoral, corrupto. Ele, a quem eu tinha como referencia de dignidade, deixou cair a máscara. Não é uma pessoa correta. Conheceu o sabor do dinheiro e desandou por caminhos tortos.

João Dias não mede palavras para atingir Agnelo Queiroz.

– É claro, é notório, que se trata de um corrupto. Os fatos são muitos. As denúncias se avolumam. E os inquéritos no âmbito do Superior Tribunal de Justiça atestam o que eu digo.

De deus grego a rei da maracutaia, dos conchavos. Agnelo Queiroz, observa João Dias, mudou da água para o vinho. “E eu que achava que ele era do bem”, frisa.

Enumerar as ilicitudes de Agnelo, segundo o ex-soldado, encheria dezenas de fitas gravadas na entrevista. Mas ele sustenta que quando passou pela Anvisa, por exemplo, o candidato à reeleição ao Palácio do Buriti descobriu um verdadeiro filão.

– Quantas licenças de medicamentos da Anvisa foram vendidas? Quantos sistemas foram fornecidos através da Anvisa? Vamos simplificar com os casos do lobista Daniel Tavares. Ele era o homem forte do Fernando Marques, da União Química, que levava o dinheiro para o Agnelo”. Tem depósitos comprovados, sustentou, citando provas supostamente anexadas aos processos que correm em segredo de justiça.

João Dias pede uma pausa. Calibra sua metralhadora. E dispara:

– Depois que ele (Agnelo) perdeu a disputa para o Joaquim Roriz, em 2006, comprou uma cobertura em nome de terceiros, da Royal Lopes, em Águas Claras. No finalzinho de 2006 e início de 2007. Então, me pergunto. Como alguém sai derrotado de uma campanha e ainda sobra dinheiro para comprar uma cobertura? E ele pagou a vista…

Não é que João Dias pretenda requentar denúncias. Mas na entrevista ele bateu na tecla do episódio do Honda Civic e de cheques que apareceram depositados em sua conta bancária.

– Aquilo foi uma tentativa dele de comprar um carro que eu havia emprestado ao Agnelo.  Como ele transportava milhares de reais no Honda, era preciso dar um sumiço no veículo, para apagar as digitais do crime.

O dinheiro, garante,  era abastecido em fontes de convênios firmados com os amigos de Agnelo. “Tem a Geralda (Goldino), que é candidata a deputada e foi administradora de duas cidades-satélites. Ali ele comeu muito dinheiro. Porém, onde ele mais arrecadou, foi na Fundação Tony Matos,  um cara amigo pessoal dele (Agnelo). Só com o Tony Matos ele fez quatro convênios. Com a Novo Horizonte, do Luiz Antônio Medeiros Coelho. Fez também com o Michael, ex-jogador de Sobradinho Futebol Clube. Mais de quatro milhões de reais, em duas entidades diferentes, dois milhões para cada…”.

Esse trecho do Dossiê João Dias para por aqui. É a parte dois. E a fita do depoimento feito a Notibras, continua sendo degravada.

Elton Santos, repórter

José Seabra, editor

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