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Cidade vive amedrontada e se divide sobre a Kinross

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Com 1,2 mil empregos diretos, a mineradora divide a cidade. Moradores com parentes empregados na mina são acusados de ameaçar quem critica a empresa. O dono de oficina Neuton José da Silva, de 48 anos, diz que são comuns bilhetes deixados debaixo de portas e telefonemas anônimos com ameaças. “Aqui você não pode abrir a boca para comentar esse caso.”

Quando a barragem de Mariana se rompeu, um grupo do Ministério Público de Minas disse em audiência pública à população que não havia risco de acidente. Pela avaliação do Cadastro Nacional de Barragens de Minérios, relatório do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), as barragens da Kinross estão na categoria “Baixo Risco”. Essa classificação foi a mesma dada à barragem de Mariana. Tanto as barragens de Paracatu quanto a da Samarco foram classificadas ainda na categoria “Alto Dano Potencial Associado”, referência ao que pode ocorrer em caso de rompimento. O Estado procurou o DNPM, mas o órgão não se posicionou.

O chefe do Departamento de Meio Ambiente da Kinross em Paracatu afirma que, logo após o acidente de Mariana, a empresa fez mais de 15 reuniões com comunidade e autoridades para discutir a questão. Ele ressalta que a barragem de Santo Antônio não recebe novos rejeitos, embora continue ligada à linha de produção, por meio da água que circula entre o depósito e a mina. A empresa está num processo de fechamento da barragem. “A gente fica tranquilo hoje para dizer que tudo que pode ser feito em segurança de barragem está sendo feito.”

Morador de Paracatu, o professor e geólogo José Márcio Santos afirma que há um nível de arsênio acima do recomendado em águas subterrâneas, rios e córregos. Ele apresenta análise da urina de 37 moradores – 29 adultos e 8 crianças – das margens do Ribeirão Santa Rita, feita entre abril e julho de 2016. Segundo ele, 70% dos exames mostraram concentração elevada de arsênio e a amostra indicou presença de 18 microgramas de arsênio em cada grama de creatina, nível acima do tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 10 microgramas.

Em alguns casos, a concentração chegou a mais de 200% do nível aceitável, afirma. “Essa população deveria receber acompanhamento especial.” Ele observa que, em seu estado natural, o arsênio não traz riscos, mas num processo industrial como o da exploração de ouro se torna veneno.

A Kinross apresentou vários estudos em sua defesa. Marcos do Amaral Morais, chefe do Departamento de Meio Ambiente, diz que a empresa minimiza impactos na cidade com barreira acústica para evitar barulho de explosões, monitoramento de ruídos e cinco estações que analisam nível da poeira, de hora em hora. Ele relata que uma parte do efluente industrial da mina, o resíduo não perigoso, é jogada nas barragens e o arsênio vai para tanques específicos e selados, com proteção de argila, que funciona como barreira química. A empresa ainda reutiliza a água, evitando que seja jogada em rios e córregos. “Estudos indicam que a exposição de arsênio em Paracatu é muito baixa. Você não encontra arsênio na água consumida na cidade”, afirma.

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