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Em tempo de crise, moderados seguram linha dura. Foi assim com Geisel

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José Escarlate

O maior adversário do presidente Geisel foi a linha dura dos militares, especialmente aqueles que não queriam a devolução do poder aos civis, conforme planejado. Faziam de tudo para colocar areia nos caminhos do governo. Desde ações criminosas, como os casos Herzog e Fiel Filho, até atentados de extrema gravidade como o denunciado em 1968, pelo capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, o “Sérgio Macaco”.

Um plano sórdido que, se consumado, provocaria uma grande matança de inocentes: jogar pelos ares o gasômetro do Rio, colocando a culpa na oposição. “Sérgio Macaco” teria sido cooptado por seu comandante, o brigadeiro João Paulo Burnier, da Força Aérea, já que pertencia a uma tropa de elite da Aeronáutica, o Para-SAR, composto de homens treinados para missões de salvamento em locais de difícil acesso.

“Macaco” se recusou a cumprir as ordens do brigadeiro, que foi denunciado também pelo coronel Dickison Grael, com quem servi na Escola de Paraquedistas do Exército, na Vila Militar. O coronel Dickison, à época capitão, era o pai dos campeoníssimos Axel, Lars e Torben Grael.

Dickson Grael foi pioneiro do paraquedismo militar no Brasil, formando-se em Fort Bening, Georgia, EUA, (1946). Primeiro militar a fazer um salto livre de paraquedas , em 1950, o então capitão Dickson organizou a Escola de Paraquedistas do Exército – dirigida pelo general Nestor Penha Brasil – e foi o primeiro comandante da recém-criada Brigada Paraquedista, entre Marechal Hermes e Deodoro, na Vila Militar.

Pela ação covarde e traiçoeira do brigadeiro João Paulo Burnier, com o apoio do brigadeiro Eduardo Gomes, Sergio “Macaco” perdeu o comando da tropa, foi preso e despojado de sua patente. Não se acovardou. Entrou com inúmeros recursos na Justiça, perdendo todos. Após sua morte, a família conseguiu reaver não só os galões, mas também as devidas promoções. Era tarde. Virou saudade.

O plano do gasômetro era tão ou mais grave ao que, anos mais tarde, ocorreu no governo do presidente João Figueiredo, quando a linha dura tentou jogar pelos ares o Riocentro, dia 30 de abril de 1981. Estavam presentes mais de 20 mil pessoas, que iriam assistir a um show de música, comemorativo ao Dia do Trabalho. A culpa seria atribuída a comunistas, desacreditando o governo. Os artefatos explodiram no colo de um sargento e um capitão, no estacionamento do Riocentro, matando o primeiro e ferindo o outro.

O caso teve desdobramentos. Golbery do Couto e Silva não gostou do rumo das investigações e deixou o governo. Foi para sua casa, em Luziânia, Goiás.

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