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Ética na política e na sociedade precisa deixar de ser questão relativa

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A primeira frase no clássico A Luta pelo Direito do alemão Rudolf von Ihering é “O objetivo do Direito é a paz, a luta é o meio para consegui-la.”. A afirmativa soa bastante contraditória ao sugerir que por meio da luta e/ou violência, se alcança a paz.

Regredindo um pouco mais no tempo, já dizia Paulo em epístola a Timóteo que combatera o bom combate, numa clara alusão de que sem ele não se alcançaria minimamente tanto o objetivo almejado quanto a satisfação de ter ao menos tentado.

A luta é inerente ao ser humano, desde as pinturas rupestres – como aquelas mesmas encontradas nas cavernas do Piauí –, até aos conflitos cuja repercussão chega ao alto conselho das Nações Unidas para deliberação acerca de sanções ou ajuda humanitária.

O que distancia os seres humanos dos animais – e aqui não estamos falando da capacidade de vida harmoniosa e equilibrada – é a aplicação de conceitos sobre respeito e convivência em sociedade, conjunto de valores ao qual se denomina ética.

A ética nos acompanha diariamente, como uma sombra que às vezes adentra até mesmo nosso subconsciente enquanto sonhamos, sendo possível a aplicação no ambiente familiar e nas relações de trabalho e convivência social.

A observância de preceitos éticos não está ligada ao local onde o indivíduo se encontra na sociedade ou na sua condição econômica. Vemos notícias na imprensa sobre pessoas que devolvem quantias de dinheiro achadas na rua e têm suas vidas alteradas a partir desse acontecimento.

Surge a pergunta: a atitude de devolver um achado que não lhe pertence é uma atitude inesperada do ser humano? Parece-me que a resposta, ao menos de acordo com a cultura da terra brazilis, é um sonoro SIM.

Daí, pra relativização da Ética é um pulo, com a ampla difusão do dito popular “rouba, mas faz” aplicado na política do ponto de vista mais amplo.

Entretanto, ao se aplicar o mesmo dito dentro de casa, nos deparamos com aquela situação da empregada que é pontual, excelente na limpeza, ótima cozinheira, carinhosa com as crianças, porém, subtrai objetos da sua casa.

Rapidamente, o leitor ao vislumbrar o exemplo acontecendo debaixo de seu teto, se indigna com a hipótese de ter em casa alguém que rouba, mas faz.

Esse relativismo da ética explica porque se tornou normal o cidadão em nosso país se escandalizar com uma violação dentro de casa, mas parecer não se incomodar com outras de valores nababescos que ocorrem na administração pública.

O relativismo da ética é que permite que o cidadão jogue lixo na rua, mas não no chão de sua casa. O mesmo relativismo que faz o traficante atirar de fuzil contra a polícia, mas levantar os braços apelando pra legalidade gritando “perdi!” quando encurralado.

É necessário o enfrentamento dos relativismos que permeiam a sociedade atualmente, e isso somente se iniciará se as perguntas certas forem feitas: você que é a favor das invasões de propriedades rurais, e se fosse na sua casa? Você que bloqueia a rua num protesto, e se fosse você em pé dentro do ônibus lotado e parado? Você que não se importa com a má gestão de recursos públicos, sabia que o dinheiro é seu também?

Essa reflexão apenas expõe um conceito básico para o convívio social que para alguns é teoria (ética) e para outros é prática (moral) e nos acompanha do berço ao túmulo. Isso mesmo, pra nascer e pra morrer também há preceitos a serem seguidos, mas isso fica pra outra coluna.

E assim eu estreio neste espaço, comprometendo-me a trazer textos mais leves e afetos ao Direito no dia a dia do leitor.

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