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A saída

Facebook vira divã coletivo de crises existenciais

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Jacob Pinheiro Goldberg

Desde sempre, a cultura e a arte foram consideradas formas de sublimação do sofrimento psíquico. A catarse por meio do gênero dramático – que engloba a tragédia e a comédia, ou seja, as lágrimas e a risada – é, além de uma expressão estética, remédio para crises existenciais, para a angústia, para a depressão, para o pânico, enfim, para o desassossego da alma.

Escrever ou ler um poema e compor ou ouvir uma música são tipos de mecanismos de fuga, durante os momentos de ansiedade, pelo “ato de vazio”, ou seja, pelo ato que joga o indivíduo na solidão.

Se desde os rabiscos nas cavernas, ao registrar sua passagem por este mundo, o ser humano tenta superar a tanatofobia (o medo da morte), hoje, no universo da megapolis, a pessoa, ilhada nos acampamentos verticais dos gelados compartimentos do egocentralizado, encontra uma rota de escape extraordinária.

No automóvel com os vidros fechados, no banheiro do apartamento ou insone na cama, o sujeito –através da simultaneidade e da instantaneidade de seus dedos– se comunica, se expõe, se impõe e se aproxima de gente que jamais viu ou que tenha ideia e percepção sensorial desses seres virtuais íntimos.

Porém, vai criando um mix. Uma rede de afinidades, de amigos e inimigos, jogando com emoções e chegando até o êxtase erótico, encontros e desencontros intelectuais, solidariedade e confrontações ideológicas.

O fato é que, em vez de antidepressivo, o ato de localizar a alma gêmea ou o inimigo transforma, num verdadeiro abracadabra, o Facebook em uma espécie de divã coletivo, em que se deitam milhões de pessoas.

Através do Facebook, com confissões das mais secretas e explosões de manifestos sociais, o que o individuo transmite pode ser autêntico ou a invenção de um personagem. Contudo, em qualquer uma das hipóteses, se amplia os contatos, num paradoxo imenso, pois este também se insere na alienação. Essa habitação na “nuvem”, e que expande outras imigrações, apavora os tiranos e os monopólios do poder.

Nunca a liberdade esteve tão próxima das mãos, da lógica e da matemática sentimental. Neste mundo de fantasia, pode-se refugiar a frustração e mobilizar a invenção. E quando a tela interagir com o “o que você está pensando?”, a ansiedade finda. Alguém se interessa por você.

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