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A paz

Grandes potências precisam sonhar com feliz ano novo

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Peter Westmacott

Apesar de todos os melhores votos para um Feliz Ano Novo que estamos enviando uns aos outros, poucos de nós estamos olhando para 2017 com muito otimismo.

As alianças estão sob tensão. A Pax Americana parece uma coisa do passado. As guerras civis – mais alimentadas por gente de fora – estão consumindo o Oriente Médio. A Europa enfrenta uma série de crises. E os terroristas continuam a causar estragos onde podem.

Enquanto isso, os mercados subirão ou descerão seja pelos tweets impulsivos de Donald Trump como pela realidade econômica. O presidente Putin continuará a explorar sinais de fraqueza ou desunião ocidental. A China vai reagir como a China sempre faz quando percebe sinais.

No Reino Unido, os Brexiters ainda estão comemorando o golpe de baioneta aplicado aos corpos de seus oponentes, mas sabem que eles também terão que encarar a realidade em 2017. Resolver as contradições dentro das várias posições do governo e evitar revoltas nos partidos menores que possam destruir a minúscula maioria parlamentar – tudo isto consumirá esforços.

Em outros lugares da Europa, França e Alemanha serão consumidas por suas próprias eleições, enquanto na Hungria e na Polônia o respeito pela democracia e o Estado de Direito está sob ameaça.

Assim, em um momento de preocupante instabilidade global, é improvável que haja muito foco nos assuntos internacionais pelo que costumávamos chamar de mundo livre – e se isso soa como uma reação exagerada aos eventos de 2016, que se dê uma olhada no que o governador republicano derrotado na Carolina do Norte fez para evitar que seu sucessor continue seu trabalho quando assumir em janeiro.

Mas é precisamente porque os governos estão distraídos ou incapacitados que existe um papel para atores não estatais. A América sempre tem uma riqueza de pessoas talentosas de plantão, bons pensadores, enquanto um presidente de partido opositor ocupa a Casa Branca. Fora do governo, eles realizam missões especializadas, às vezes solo e às vezes em grupos bipartidários, para abordar as grandes questões de política externa e de segurança do momento.

O Congresso faz a mesma coisa, invariavelmente obtendo resultados de alto nível para as delegações itinerantes de congressistas, assim como ocorre com os comitês seletos do Parlamento do Reino Unido.

Os canais privados estabelecidos desta maneira podem ser de grande valor. Os primeiros dois anos de negociações com o Irã, que culminaram no acordo nuclear de 2015, por exemplo, foram conduzidos abaixo do radar por funcionários norte-americanos e, em seguida, pelo senador John Kerry. Durante anos, a diplomacia desse tipo ajudou a garantir que os governos dos EUA e da Rússia se compreendam mesmo quando as relações oficiais são tensas.

Hoje, temos de enfrentar a incerteza e a imprevisibilidade, o medo, o nacionalismo populista sendo atacado e explorado pelos chamados “homens fortes”, e o uso de mídias sociais – descrito em um recente editorial do Washington Post como “um corpo hospedeiro neutro para a insanidade parasitária”, capaz de espalhar fatos falsos. Esta seria uma combinação perigosa, mesmo se a América não estivesse em transição e outros governos fossem capazes de se unir para gerir os riscos. Mas está, e não há mediadores.

As figuras políticas poderiam ajudar também, embora, como os financistas cuja ganância trouxe o sistema financeiro do mundo de joelhos em 2008, alguns pensam mais em si próprios, e preferem manter as suas cabeças baixas e continuar a fazer grandes somas no circuito das conferências. Na Grã-Bretanha, uma grande minoria continua a acreditar que provocar e depois perder o referendo da UE em junho de 2016 foi o maior ato de irresponsabilidade política dos tempos modernos.

A necessidade de outros jogadores para ajudar a administrar a tensão é suficientemente clara. Mas esta missão não deve ser deixada para os Estados Unidos. A América tem imensas reservas de talento, mas também tem bagagem, como outros grandes poderes.

Há empresários, acadêmicos, generais aposentados e antigos diplomatas de muitos outros países com longa experiência e relações de confiança construídas ao longo de muitos anos que podem e devem se unir, de forma genuinamente transatlântica ou talvez global, com vista a olhar estrategicamente para o futuro. Poderão avaliar as tendências e os riscos e alertar os líderes públicos e políticos quando há perigo e como evitá-lo.

Centros políticos respeitados e grupos de reflexão dos dois lados do Atlântico começam a pensar nesse sentido. Seu trabalho será ainda mais valioso se os governos perceberem como estão absorvidos com suas próprias preocupações domésticas e como poderiam ajudar com uma mão amiga.

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