Jacques Wagner foi cagão, como foi Darcy

Beto Almeida

A patética declaração de Jacques Wagner, na semana passada, afirmando que Temer “deveria ter sido preso por conspiração contra o Estado de Direito e a democracia” quando transformava o Jaburu em bunker da conspiração golpista, revelando, ao mesmo tempo, que não agiu quando podia, mesmo tendo instrumentos legais para isto, faz lembrar e compartilhar o que teria sido, segundo familiares, a única grande tristeza que Darcy Ribeiro levou para o túmulo.

Após o golpe de 64, ao encontrar-se com Che Guevara pessoalmente, este lhe passou um tremendo pito, chamando-o de tudo, de cagão, incompetente, vacilão etc, por ter deixado o poder escapar das mãos, sem reação, e por não terem usado as ferramentas de poder para derrotar o golpe.

Como se sabe, enquanto Brizola pregava a organização da resistência, a preparação para o enfrentamento, há gravações de janeiro de 64, de um programa de auditório na Radio Mayrink Veiga, em que o gaúcho chamava claramente para uma organização em defesa da democracia, a linha predominante no governo Jango era de não resistir.

Em agosto de 1961, na Campanha da Legalidade, Brizola chegou a organizar uma caravana militar gaúcha para ir até Brasília “prender os golpistas e fechar congresso”, que estavam conspirando contra a democracia, portanto , fora da lei. Quando a crise foi superada e os golpistas derrotados , desistindo do golpe, com a opção pelo plebiscito, dispositivos militares precursores gaúchos já estavam em São Paulo, em direção a Brasília. Essa iniciativa, juntamente com a mobilização do povo, a distribuição de armas e uma audaciosa rede de rádios em defesa da legalidade, obrigou os golpistas a recuarem, admitindo a posse de Jango, embora com poderes limitados, que ele recuperaria via plebiscito pouco depois. Devemos a Leonel Brizola a posse de um presidente da República!

Che tinha conhecimento de tudo isto e não perdoou Darcy Ribeiro e a vacilação que permitiu o golpe sem qualquer resistência, quando o Almirante Aragão. comandante militar do Rio de Janeiro, em 64, tinha tropas cercando o Palácio da Guanabara, onde estava Lacerda, o cabeça do golpe, tendo solicitado ordem para atacar, o que lhe foi negado por Jango. O Brigadeiro Moreira lima, com posições de comando na Base Aérea de Santa Cruz, sobrevoou as tropas golpistas que vinham de Minas, e também não teve autorização para atacar.

Darcy ouviu cabisbaixo o pito de Che Guevara. Tudo indica que concordou com a bronca guevarista, pois, segundo familiares, foi a grande tristeza que ele levou para o túmulo.

A declaração de Jacques Wagner é indicativo do que já sabemos: não houve nenhuma tentativa de organizar uma resistência. A TV Brasil só alterou sua programação quando a situação estava quase perdida. Dilma declarou à Telesur que não tinha nenhuma indicação de que se tratava de um golpe organizado de fora, nada foi feito para conter os abusos ilegais da PF., que é apenas um departamento do Ministério da Justiça. Se nem os dirigentes sabem quem é o inimigo e de onde vem o golpe….Por isso, a proposta de formação de uma Rede de Comunicação Democrática, interligando as TVs Educativas em mãos de governos à esquerda, mais as rádios educativas e comunitárias, mais as tvs comunitárias, para denunciar o golpe e convocar o povo a resistir não foi levada em consideração.

Muito ainda está por ser revelado sobre o golpe que derrubou Dilma, sem que se tenha convocado a uma reação contundente, sequer uma Rede da Legalidade de Rádios e TVs, como proposta foi tentada. Com 7 tvs legislativas nas mãos, os governadores petistas,com obrigação de defender a Constituição, sequer alteraram a programação das emissoras sob sua área de influência, a começar pela formação de uma rede em defesa da democracia e da legalidade. O golpe transcorreu como um procedimento normal, sem que se convocasse o povo a resistir e a se mobilizar. A mídia internacional mostrou o golpe, denunciou. A TV Brasil e as TV Educativas continuaram com sua programação convencional, desenho animados, filmes com pipoca e nenhuma convocação ao povo para que defendesse a democracia.

Sentirá Wagner a mesma tristeza sentida pelo inesquecível Darcy Ribeiro?