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Loemy, 24 anos, a modelo que trocou passarelas pelo crack

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A revista Veja SP trouxe em sua capa nesta semana a história de uma modelo que foi parar na Cracolândia, no centro de São Paulo, após sofrer uma daquelas reviravoltas da vida que ninguém sabe explicar direito. Da publicação pra cá, a “modelo da cracolândia” virou assunto e atraiu a atenção de outros veículos de comunicação, como emissoras de TV que já pensam em tirar a personagem do mundo do vício.

A reportagem da revista é muito bem escrita e coloca em evidência o poder destrutivo do crack, que fez com que Loemy Marques, de apenas 24 anos, deixasse o mundo do glamour da passarela e passasse a viver em meio ao lixo, onde, inclusive, já se submeteu à prostituição para sustentar o vício.

É uma história forte e comovente, mas ela não é muito diferente das dezenas de histórias de quem vive naquelas ruas esquecidas. “Uma loira magra, de 1,79 metro de altura e olhos verdes, no entanto, não consegue passar despercebida”, diz a reportagem da Veja SP. Isso é verdade e deveria provocar, no mínimo, uma reflexão.

 – Ela é loira, tem olhos claros e é alta. Não deveria estar na Cracolândia –

Será essa mensagem que devemos passar? Será esse o motivo para uma mobilização para que a moça se recupere e volte a trabalhar como modelo? Até que ponto não é a elite branca e rica enxergando um igual em um lugar onde predominam negros e pobres? São questionamentos que devemos fazer.

No ano de 2012, em Curitiba, uma mulher viu um mendigo de olhos verdes e pele clara e logo fez uma foto. Em pouco tempo a imagem do então desconhecido viralizou e ele ficou conhecido como “mendigo gato”.  Dias depois da publicação da foto, descobriu-se que ele se chamava Rafael e era um ex-modelo.

Rafael, assim como Loemy, chamou a atenção da imprensa e logo virou alvo de programas de TV, que “lutaram por sua recuperação”.  Atualmente ele faz tratamentos semanais para permanecer livre do vício e acaba de ter um filho.

É lindo ver o esforço coletivo para que pessoas consigam abandonar o mundo das drogas e espero que a modelo consiga reconstruir a vida, assim como fez o “mendigo gato”. Mas, e os outros?

E aquela retirante que chegou em São Paulo com a roupa do corpo e foi obrigada a morar na rua? E aquela dona de casa que teve o marido preso e não conseguiu trazer comida pra casa? E as centenas de pessoas que não se sobressaem na multidão, que não tiveram a sorte de ter 1,79 m, olhos verdes, pele branca e cabelo loiro? Eles não merecem nossa atenção e nossa compaixão?

O crack é uma questão de saúde pública e deve ser debatido com seriedade, assim como os desafios enfrentados pela população de rua. E todos que vivem essa tragédia, sem distinção de raça e origem, merecem nossa atenção. Não podemos só nos indignar quando o viciado em crack é branco e tem olhos verdes. Viver uma vida arrasada pela droga não é normal, nem nunca será, seja o doente negro, branco, alto, baixo, rico ou pobre.

Em plena semana da Consciência Negra, acho que vale refletir se o Brasil realmente trata a todos com igualdade. Em minha singela opinião, ainda estamos bem longe disso.

Fábio Santos, Terra

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