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Ministro esbraveja por US$ 15 milhões. E a propina muda de mãos

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As lendas urbanas já se incorporaram a cultura do nosso País.

Lenda urbana é aquela pequena história fabulosa ou sensacionalista que é divulgada pela imprensa, rede social e, principalmente, pelo povo que no boca-a-boca se encarrega de ampliar e alterar as diversas versões. Existe até mesmo um ditado que diz: “o povo aumenta, mas não inventa”.

Mas lenda urbana não são somente aquelas histórias fantásticas da mula sem cabeça, da noiva do cemitério, do ET de Varginha e outras tantas que entraram para o folclore brasileiro. A história daquele empresário que chegou a Brasília no início da construção da cidade dirigindo um caminhão e que hoje deixou uma herança milionária.

Aquele outro empresário que tinha como hobby “namorar” as meninas sobrevoando a cidade em seu avião particular. Ou mesmo o que simulou um assalto a sua casa para receber o dinheiro do seguro das suas joias.

Essas histórias não foram inventadas. Alguma coisa de verdade tem. No entanto, com o passar do tempo, elas foram ampliadas, modernizadas e se transformaram em lenda urbana.

Certo dia, durante a ditadura militar que governou o Brasil de 1964 até 1985, um ministro muito respeitado, influente e reconhecido internacionalmente pelos seus conhecimentos da área em que atuava, chamou o seu assessor particular ao seu gabinete.

O assessor (vamos chamá-lo pelo nome de Roberto) era um rapaz jovem, inteligente, falava diversos idiomas e de extrema confiança . Já tinha provado isso em diversas ocasiões.

Roberto entra na sala do ministro, cumprimenta com toda a reverência:

– Pois não, ministro.

– Roberto, eu tenho uma missão para você. Não é complicada, mas é de muita responsabilidade e preciso do seu sigilo absoluto, pois se trata de segredo de Estado.

– Claro, ministro. Pode contar comigo. O senhor sabe que pode contar comigo sempre. Sou muito grato por tudo o que senhor fez por mim e por minha família, disse o assessor.

O ministro passou a explicar qual seria a missão importante sem, contudo, falar em detalhes.

– Roberto, está aqui passagem aérea para Paris, com a reserva de hotel e tudo o mais. O que você tem que fazer é passear um dia pela cidade. Você conhece Paris? A Torre Eiffel é uma beleza. Arco do Triunfo, Champs –Elyseés… uma maravilha. O importante é que você esteja no restaurante do hotel nesse horário que está aqui marcado no papel.

O assessor já começou a ficar preocupado, achando que a missão não era tão simples como tinha imaginado.

– Pois bem – continuou o ministro – você ocupa a mesa número 32 e fica esperando uma pessoa que vai te entregar um envelope. Sem conversa. Ele entrega o envelope e vai embora. Aí você volta para o apartamento, prepara suas malas e abre o envelope que estou entregando com novas instruções. E é só. Ah, só um lembrete importante: não abra o envelope que o mensageiro vai te entregar. Posso contar com você?

Claro que sim. Roberto tinha servido nas Forças Armadas e estava acostumado a receber ordens e cumpri-las sem fazer perguntas. O assessor saiu da sala se sentindo o próprio agente secreto dos filmes de Hollywood, sem antes receber o desejo de uma “boa viagem” do seu chefe.

No dia seguinte, Roberto desembarcou no Aeroporto Charles De Gaulle, pegou um táxi e foi para o hotel indicado. Fez exatamente o que o ministro havia sugerido: passeou pelos pontos turísticos e lanchou no charmoso bistrô/café Marly, que fica em frente ao Louvre. Dormiu cedo, ansioso pelo encontro na manhã seguinte, no restaurante do hotel, mesa 32.

Às 8:15, em ponto, Roberto estava com o cardápio na mão escolhendo o desjejum. Chega um homem de meia idade, têmporas brancas, camisa polo e um cachecol em volta do pescoço. Apenas uma palavra interrogativa: “Roberto?”. O assessor acenou positivamente com a cabeça. Sentou na cadeira da frente e entregou um envelope. Olhou para os lados e saiu.

Nervoso, Roberto mal tomou o café que estava na mesa e saiu às pressas em direção ao quarto para abrir o envelope que o ministro havia lhe entregue, e saber quais eram os próximos passos.

No quarto, o assessor abriu o envelope que tinhas as novas instruções. Um bilhete, explicando o que deveria fazer. “Pegue o envelope que recebeu do mensageiro e entregue ao gerente do banco Crèdit Suisse, em Berna, Suíça”. As passagens e voucher do hotel estavam em anexo. Ainda sob tensão, Roberto arrumou as malas, saiu do hotel em Paris e rumou para a continuação da sua missão.

Dentro do voo da Swiss Air, depois de tomar um uísque, Roberto se acalmou. Ficou pensando sobre o envelope ainda lacrado que recebeu do mensageiro e que deveria entregar ao gerente do banco. Relaxou e tentou dormir um pouco, mas a curiosidade é um defeito inerente do ser humano. Tirava o envelope do bolso do paletó e ficava olhando.

A dúvida o atormentava. Não resistindo à curiosidade, o assessor abriu o envelope. Afinal, imaginou, ninguém ficaria sabendo que ele teria feito aquilo. Veio a surpresa. O conteúdo era um cheque de 15 milhões de dólares! “Meu Deus! Quinze milhões de dólares aqui na minha mão”, pensou.

O resto da viagem foi um tormento para Roberto. Mil ideias passavam por sua cabeça. Não, ele não poderia fazer nada que a sua consciência reprovasse. Ele era honesto, de família honesta… Dinheiro nenhum poderia mudar os seus princípios.

Assim, atormentado por pensamentos mirabolantes, Roberto chega à Suíça e vai ao banco cumprir a sua missão. De volta ao Brasil o assessor chega ao seu local de trabalho e é chamado pelo ministro.

– E então, Roberto, foi bem de viagem? Missão cumprida?, perguntou o ministro.

– Bom, ministro, a viagem foi boa, mas a missão não foi totalmente cumprida, disse.

– Como assim, não totalmente cumprida?, reagiu o ministro, espantado. E acrescentou: O que aconteceu?

– Acontece que o mensageiro que o senhor disse que iria me encontrar no restaurante do hotel em Paris não apareceu. Esperei um tempão. Andei pelo hall do hotel e nada. Como a instrução é que eu deveria abrir o envelope que o senhor me deu depois que recebesse a encomenda do mensageiro, eu não abri. Aí eu voltei. Desculpa, mas segui as instruções à risca. Não liguei para o senhor porque o senhor disse que não precisaria.

O ministro, chateado, disse que iria procurar saber o que aconteceu e agradeceu. No dia seguinte, o assessor Roberto foi demitido.

O resto é lenda urbana.

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