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Urnas já

Congresso resgata credibilidade ou vaca vai pro brejo

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Ronaldo Caiado

O ano de 2016 foi, sem dúvida, um dos mais significativos de toda a história republicana brasileira. Marca o advento de uma opinião pública genuína, à margem da opinião publicada.

As multidões, aos milhões, ocuparam as ruas de todo o país à revelia da mídia, das lideranças políticas e das corporações trabalhistas. Todas, sem exceção, perderam interlocução e credibilidade com a sociedade, que hoje dispensa intermediários.

A população articulou-se pelas redes sociais e uniu-se em torno de bandeiras comuns, sem cunho ideológico. Pedia ética na política, transparência nas contas públicas e, numa palavra, justiça aos maus agentes públicos. Não é mais possível governar o país como antes, nem mais se admite um Estado isolado em torres de marfim.

A sociedade mostrou-se ciente não apenas dos danos decorrentes da corrupção, mas também do mau uso dos impostos, que configuram uma das mais altas cargas tributárias do planeta, sem a contrapartida dos mais elementares serviços públicos.

Se o país exibe péssimos índices na educação e oferece saúde e segurança públicas desqualificadas, não é por falta de recursos, mas pelo desvio e mau uso deles. De toda essa mobilização popular, resultaram o impeachment da presidente da República e o desmascaramento de seu partido, o PT, cuja ação predadora conjugou corrupção e má gestão, em níveis sem precedentes.

O efeito colateral desse processo é o descrédito generalizado da classe política. Os justos (e os há) pagam pelos pecadores. O povo sente-se traído.

Por essa razão, propus a antecipação para 2017 das eleições no âmbito federal, abrangendo Congresso Nacional e Presidência da República. Nada de pessoal contra o presidente Michel Temer, mas é inegável que seu governo, com seis ministros já afastados no rastro de denúncias, e ele próprio já citado nas delações da Odebrecht, fragilizou-se e perdeu sintonia com as ruas.

Objetivamente, governo e Congresso não têm autoridade moral para efetuar as reformas indispensáveis: previdenciária, trabalhista e tributária, entre outras. Pelo alcance e profundidade, e pelo sacrifício que impõem à população, exigem credibilidade por parte de quem as encaminha. As delações em curso, que obviamente precisam ainda ser depuradas, comprovadas e hierarquizadas, lançam suspeitas sobre toda a classe política e as instituições do Estado.

Nem os políticos, nem os ditos movimentos sociais e as corporações falam mais pela população. E esse é um fenômeno que só a renovação de todo o ambiente político-institucional, via eleições diretas, pode curar. Incluo o mandato ocupado por mim no que proponho.

Quem não deve, não teme as urnas, e o povo saberá separar o joio do trigo – aliás, só ele poderá fazê-lo. Não significa que o novo presidente estará investido de dons miraculosos. Mas, com certeza, terá autoridade moral, delegada pela maioria, para encaminhar as mudanças necessárias. E são mudanças urgentes, a serem debatidas e explicitadas no curso da campanha.

As contas do país estão exauridas. A aprovação da PEC do teto dos gastos públicos foi fundamental, mas insuficiente.

Credibilidade é a palavra-chave. Precisamos readquiri-la. Sem ela, o abismo entre sociedade e Estado irá se aprofundar e o país ingressará de uma vez num quadro de anomia, cujo desfecho é imprevisível. Há chances para uma saída pacífica e construtiva, desde que a classe política se submeta ao batismo purificador das urnas.

Nesses termos, 2017 pode ser um ano ainda mais marcante na consecução de uma meta a que todo o país aspira: a refundação da República. Uma República que faça jus a seu nome. Feliz ano novo!

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