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Hélio Souto

Papinha preferia um scotch e foi para o túmulo com ele

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José Escarlate

Quem também pintava pelo posto quatro e meio, em Copacabana, na minha adolescência era o sempre posudo Hélio “Papinha”, o Hélio Souto, pouco mais velho que nós. Ficou Papinha porque, na adolescência fez um demorado tratamento dentário ficando muito tempo à base de papinha de pão.

Tirava onda com as garotas por ser realmente muito parecido com o ator americano Cornell Wilde. Sorriso perfeito, 1,85 metro de altura e corpo definido pela natação e fisiculturismo, Hélio Souto nasceu para ser galã. Uma noite, ao sair do Cine Roxy, em Copacabana, foi descoberto pelo iluminador Konstantin Tkaczenko, que o convidou para um teste.

Deu certo, assinando contrato de exclusividade com a produtora Maristela. Entrou para o time dos galãs do cinema nacional, que incluía Cyll Farney e Anselmo Duarte.

Nascido de cara pra lua, o nosso Hélio Papinha participou do primeiro filme colorido, “Destino em Apuros”, com Paulo Autran e Paulo Goulart, que ganhou o Prêmio Saci de melhor fotografia e ele levou muito mais: luxo, poder e riqueza.

Durante as filmagens, feitas na fazenda da família Morganti, conheceu Maria Helena, filha do dono. Apaixonados, se casaram e foram morar em São Paulo. Ele causava frissons nas alunas do Colégio Sion, vizinho de sua casa. Hélio andava feito um cabide, sem olhar para os lados. Era um homem lindo, charmoso.

Falava-se em golpe do baú, mas ele gostava dela, que era discreta e chic desde menina. O casamento movimentou o Brasil. Frequentavam os melhores salões, festas e clubes. Figura constante nas colunas sociais. Entrava no elevador, as mulheres paralisavam. O casal era festeiro: frequentava, recebia e bebia muito. Presença constante no cassino do Guarujá. Seu sítio, em Cotia, tinha 18 suítes. “Perderam fortunas no jogo”, diz Mara Cedro, segunda esposa de Hélio. “Os Morganti – afirmava – não eram milionários, eram trilhardários. Tinham até navio cargueiro de açúcar”.

A bebida e o jogo terminaram com sua fortuna ao lado de Maria Helena. Venderam até a residência no Guarujá. Foi quando o casamento acabou. Helio Papinha enfrentou crises de alcoolismo, chegando a beber 1 litro e meio de uísque por dia. Encarou até as pornochanchadas da vida. Tinha cara de rico, mas nem sempre o bolso correspondia.

Conheceu Mara Cedro, de rara beleza e modelo exclusiva do estilista Souto Maior. Foi na extinta boate Ta Matete. “De repente, estava tentando dançar quando me chega aquele Deus grego, coloca o dedo na covinha do meu rosto e diz: ‘Posso te ensinar a dançar?’”, relembra Mara.

Romance assumido, ela fez uma exigência antes de se casar, em 1982: internou o ator na caríssima clínica Granja Julieta para tratar seu vício pela bebida. Mara e Maria Helena tornaram-se amigas íntimas.

Era comum Mara recorrer à primeira esposa de Souto para interná-lo. E, como Mara não gostava de dançar, convidava a ex de seu marido para fazer par com ele. Ninguém entendia nada, mas Souto e Maria Helena passaram a ser bons amigos. Mas o alcoolismo venceu. Hélio Souto, o meu companheiro de adolescência morreu aos 72 anos, em outubro de 2001, numa clínica de reabilitação em Atibaia.

PV

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