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P.O. reaparece e diz que o ‘toma lá dá cá’ na política não leva a nada

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Numa confortável sala do Manhattan Hotel Plaza, logo ali na Asa Norte, região nobre de Brasília, um grande mapa estampado na parede chama atenção. Não por estar desatualizado, já que a Rússia é ainda geograficamente definida como União Soviética. O que incita perguntas são os alfinetes vermelhos espalhados por praticamente todo o território mundial.

Didaticamente, esses pequenos objetos pontiagudos representam uma espécie de bandeira fincada, demarcando por onde o dono do mapa já pisou. Questionado sobre sua próxima viagem, a Índia e a China estão no topo das prioridades. Ele quer conhecer os encantos dos países asiáticos, suas culturas e comidas típicas.

“Eu sempre tive esse mapa. Olho pra ele porque é um momento de reflexão. Quando me acho muito importante, vejo o mapa e percebo que não sou nada. Vejo a grandeza do mundo. E quando acho que estou muito chateado, vejo que tem milhões de pessoas na miséria. Esse mapa é uma referência de olhar e ter um sentimento da grandeza da minha vida”, resume.

Um homem que conhece bem o mundo, mas que foi na pequena Capital da República, no universo chamado Terra, onde fez fortuna. Tem um dos maiores patrimônios da cidade. Para o mercado, o valor é de 700 milhões de reais. Declarados ao TSE, 323 milhões, na última vez em que disputou um pleito.

Ele atende pelo nome de Paulo Octávio. Foi e continua como um agente público influente no Distrito Federal. Mas preferiu se autoimpor um hiato na vida política, logo depois do escândalo do Mensalão do DEM. À época ele era vice-governador.

Culpado ou vítima, o também vice-presidente regional do PP, recebeu Notibras para a primeira entrevista que concede à imprensa desde a sua prisão na Operação Átrio, em junho do ano passado. E a única, diz ele, em que ficou 40 minutos conversando sobre tudo, inclusive política.

Na entrevista a seguir, feita no alvorecer do novo governo, Paulo Octávio fala da sua expectativa com a administração do socialista Rodrigo Rollemberg.  E do alto da experiência acumulada no campo político como deputado, senador e vice-governador, dá conselhos. Tanto ao chefe do Executivo, como para os novos deputados distritais.

Há rumores de que o senhor sairia do PP. Até onde isso é verdade?
Não. Não existe nenhum fundamento nisso. O Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, é muito meu amigo. Entrei no partido no ano passado. Fui convidado para ser vice-presidente. Inclusive acabou de ser nomeada a nova comissão de dirigentes e eu continuo nela.

Com voto influente?
Tenho uma voz ativa boa. Temos um entendimento com o (ex-deputado distrital) Benedito Domingos de continuar dividindo a condução do partido. Só que o partido, infelizmente, conseguiu eleger apenas um deputado distrital. Nós tínhamos três na última legislatura. E logicamente que o partido fica mais enfraquecido.

Por que esse enfraquecimento?
Acabou que a coligação que foi feita com o PP e PT, foi uma coligação onde os candidatos do PP eram em menor número do que o do PT. Mas nosso partido também elegeu um deputado com uma votação expressiva, que é o Dr. Michel. E o Paulo Roriz ficou na suplência. Mas estamos aguardando os acontecimentos. Nada impede de oportunamente o Paulo assumir o mandato, dependendo das negociações do governo.

Então já existem negociações?
Segundo o Paulo Roriz, sim.

Que negociações seriam?
Não sabemos ainda. Talvez o Dr. Michel assuma alguma posição no Executivo no momento certo.

O que o PP pode esperar do governo e o que o partido pode oferecer ao Buriti?
Nós adotamos uma posição de neutralidade em relação ao segundo turno. Então as tratativas com o governo têm sido as mais escassas possíveis.

O senhor Influenciou na composição da equipe dele?
Não. Eu sou da Ademi e do Sinduscon. A gente entende que a ida do Júlio Peres para a Secretaria (de Infraestrutura), foi muito positiva para o setor produtivo. É bom para a economia da cidade porque é um empresário que conhece as questões do segmento. Quanto aos outros secretários, alguns eu conheço mal e outros nem conheço.

Mas qual a sua avaliação do secretariado do novo governo?
É muito difícil analisar por que eles mal começaram a trabalhar. Não tiveram experiência na administração pública. É uma crítica difícil de ser feita.

O PP vai ficar em cima do muro ou vai fechar acordo em determinados temas?
O PP está aguardando os acontecimentos porque a posição que eu tenho visto do governador é de ter uma distância maior do legislativo e dos partidos. Esse é o sinal que tem dado…

O senhor acha isso positivo?
Acho que em Brasília, a conversa é sempre boa. O entendimento democrático é importante. Mas como é uma posição, e acho que as necessidades mais emergentes do governo são de colocar as contas em dia, a preocupação maior do governador é de equilibrar a questão financeira. Acho que tudo tem seu tempo. Não se impõe uma administração de uma vez, definitivamente. É aos pouquinhos. Na experiência de governar, você vai aprendendo. É uma política que eu respeito.

Mas na sua experiência política, você pregaria um diálogo maior?
Acho fundamental. Entendo que a conversa com os partidos e com os deputados que foram eleitos pela população de Brasília é muito importante.

Considera-se vítima política do governo Agnelo?
Não.

A quem o senhor atribui os supostos envolvimentos na Operação Átrio?
Tem uma questão só, que é a do JK Shopping. Esse foi um projeto aprovado em 2009 e quando fomos inaugurar o empreendimento deu aquela confusão toda, que estamos, logicamente, resolvendo. O JK não tem nenhuma irregularidade. O alvará foi concedido em 2009, em outro governo. Temos a convicção que não tem nenhuma falha na aprovação do projeto.

Então a que se atribui esses impedimentos?
O impedimento não foi feito pelo governo. Foi uma intromissão do Ministério Público, em relação a aprovação do relatório de Impacto de Trânsito. Em 2009, esse documento não era exigido. E houve o questionamento sobre esse RIT. Hoje nós temos. O interessante é que depois veio um decreto do governo liberando o RIT de projetos aprovados até 2010.

Então por que o senhor foi preso?
Porque o Ministério Público entrou com uma ação. E foi ao juiz dizer que eu tinha inaugurado o shopping à revelia. E que eu não tinha o habite-se. Mas havia uma determinação judicial para funcionar. Então foi uma informação equivocada. Tanto é que o meu Habeas Corpus foi julgado por 5 a 0 a meu favor.

Acha que a culpa desses problemas pode ser a burocracia?
Olha, realmente a burocracia, na questão de aprovação de projetos em Brasília, fez com que o mercado imobiliário desse uma travada muito grande nos últimos anos. Hoje é uma questão que não contribuiu para o desenvolvimento da cidade. Os lançamentos imobiliários reduziram bastante…

Mas o problema ocorreu na gestão de Agnelo Queiroz ou vem de outros governos?
Na gestão do PT ficou muito burocratizado. Foram feitas algumas mudanças na forma de aprovar projetos. Antigamente eram aprovados nas administrações regionais. E passaram para uma central, onde os projetos de todas as cidades então reunidos. Foi uma iniciativa aprovada pelo próprio segmento. É como se fosse um “Na Hora” de projetos. Só que até essa coisa engrenar demorou muito tempo. E misturavam os projetos do governo com os da iniciativa privada no mesmo setor e isso fez com que houvesse um retardamento. Mas parece que agora está engrenando.

O senhor, como empresário, sentiu essa trava?
Senti porque tivemos que reduzir muito o número de funcionários. Em 2010 nós tínhamos aproximadamente três mil funcionários só em obras. Agora temos mil. Nós que já tivemos dez obras por ano em Brasília, hoje só temos quatro.

Sua carreira política te levou a vários cargos. Em 2018, qual o seu objetivo?
Desde que deixei a vida pública em 2010, eu tenho sido muito feliz em ser apenas empreendedor. Acho que em Brasília falta isso. As referências empresariais em Brasília são muito pequenas. E a nossa organização que reúne 22 empresas, e com um número elevado, são quase cinco mil funcionários com empregos diretos, temos uma responsabilidade enorme com a cidade. Dei tudo o que eu podia como deputado, senador. Sempre fui o mais votado da minha coligação nas eleições de que participei, desde 1990. O trabalho que eu fiz por Brasília está aí. Desde a criação do Fundo Constitucional, que é muito importante para cidade até os benefícios que Brasília ganhou.

Mas pretende voltar à vida política com mandato?
Não sei. Eu digo sempre que pra ser candidato é preciso ter a certeza de que se está pronto para ajudar a população. Eu tenho ajudado Brasília dentro da empresa.

Existe risco de uma suposta bolha imobiliária estourar?
Nós não temos um crescimento e um resultado de vendas tão auspicioso como 2010, 2009. Ali foi um momento áureo. Mas eu que estou no mercado há 40 anos, a gente entende que o mercado é cíclico. Então você tem um momento de euforia, que o gráfico de vendas vai lá pra cima. Depois se tem um declínio e em seguida, novamente um ciclo de crescimento de vendas, porque o Brasil cresce.Hoje Brasília tem uma demanda grande que está sendo consumida e como se teve uma redução de construção nos últimos três anos, nós teremos daqui a dois anos um novo pique. Nesses 40 anos o otimismo sempre me guiou.

Como avalia a questão da falta de infraestrutura para novos empreendimentos?
Acho que o novo governo deve dizer o que pretende. Acho que fazer a Interbairros é importante, estender o metrô é fundamental, alargar as pistas porque a vida moderna fez com que cada cidadão tenha um carro. Isso não tem como reprimir. A forma é melhorar o transporte público. Para isso é importante que o governo já consiga dizer o que quer.

Existe a possibilidade real do governador Rollemberg melhorar Brasília?
Acho que todo governo é muito curto. Quatro anos é um tempo que eu gasto para fazer um prédio residencial. Só Juscelino conseguiu fazer uma cidade em mil dias. Ninguém consegue porque hoje existe uma amarra muito grande. Qualquer obra pública depende de licitação, depende do MP, do TCDF. Toda obra no Brasil é muito lenta. Se o governo não começar ativamente e buscar recursos, o tempo vai passar e não teremos o que precisamos.

Nos últimos anos houve uma considerável alternância de poder. Isso emperra a máquina?
Não, até porque sou contra a reeleição. O primeiro projeto que fiz quando era deputado federal foi o fim da reeleição, e olha que o Fernando Henrique acabara de ser reeleito. Sou contra porque normalmente, no quarto ano de governo, a máquina trava para se buscar a reeleição. E isso não é bom. Defendo o mandato de cinco anos.

O aparelhamento da máquina pública pode ser considerado outro entrave?
É evidente que quem está no poder quer ser reeleito. É quase uma obrigação. Muitas vezes faz com que o governante, em vez de cuidar das questões administrativas, ele passa a cuidar praticamente de questões políticas e eleitorais e isso logicamente desvia o foco.

Tem conversado com o ex-governador José Roberto Arruda?
Não tenho contato com ele. Não estive com ele. Falamos por telefone. Ele me perguntou se eu seria candidato e respondi que não.

Mas o senhor quis ser candidato. Qual o motivo da desistência repentina?
Eu decidi me candidatar a uma vaga na Câmara Legislativa porque é o único cargo que não exerci em Brasília. Queria dar a minha experiência que tive no Congresso e no Executivo. Mas depois acabou que o nosso partido fez uma coligação com o PT. Esse foi um dos motivos. Tenho respeito pelo quadro petista. Mas seria difícil para mim, pessoalmente, estar coligado e ser candidato ao lado do PT. Achei melhor não disputar.

Classificam a CLDF como puxadinho do Buriti. O senhor concorda?
A Câmara Legislativa tem um papel muito importante para a sociedade. Ela só não descobriu ainda. A preocupação dos deputados com os cargos tem dificultado o relacionamento. Isso criou uma cultura em Brasília de que o deputado tem que ter 200, 300 cargos no governo. Isso é ruim no relacionamento entre Executivo e Legislativo.

Existe diálogo Executivo-Legislativo sem o toma lá dá cá?
Essa é uma questão que se estabelece desde o primeiro dia de governo. Se definir que a conversa não pode se pautar nesse sentido, mas em outro nível, é bem possível ter um relacionamento com a Câmara Legislativa. Acho que o legislador pode apresentar nomes importantes para a cidade, desde que sejam pessoas que não estejam lá a serviço do parlamentar. Tem que estar a serviço da sociedade.

Elton Santos – Colaborou José Seabra

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