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História de Phiona

Rainha de Katwe, dica para quem adora cinema

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Mariane Morisawa

Poderia ter sido no Brasil, mas foi em Uganda: uma menina criada em condições precárias numa favela tornou-se uma enxadrista com a ajuda do projeto social liderado por Robert Katende (David Oyelowo). A vida de Phiona Mutesi (a estreante Madina Nalwanga) ultrapassou a comunidade de casas simples e ruas de chão batido da capital Kampala e virou o longa Rainha de Katwe, em cartaz no País, que é dirigido pela indiana radicada em Uganda Mira Nair.

“Foi uma alegria e um privilégio poder fazer esse filme”, disse Nair em entrevista durante o Festival de Toronto. “Vivo em meio à dignidade cotidiana dessas pessoas, seu atrevimento e seu estilo, mas nunca tinha visto nada disso no cinema.” De fato, é raro ver na tela uma história passada no continente africano que seja protagonizada por personagens também africanos – especialmente que não mostrem ditadores ou crianças-soldado.

“Em Uganda, fiz O Último Rei da Escócia”, disse Oyelowo, famoso por interpretar Martin Luther King em Selma – Uma Luta pela Igualdade. “Muita gente só conhece Uganda por causa daquela história envolvendo o ditador Idi Amin. Por mais que ame aquele filme, há outras histórias em Uganda. Amin não deveria ser a primeira coisa em que se pensa quando se ouve a palavra Uganda. É um ultraje. Então, acho que este filme traz um pouco de equilíbrio à narrativa”, avaliou o ator.

Nair, conhecida por algumas produções cheias de cor e dança, como Um Casamento à Indiana” (2001), reproduz a mesma vivacidade aqui para contar a história de Phiona, que teve de abandonar a escola e vender milho nas ruas da cidade para ajudar sua mãe, Nakku Harriet (Lupita Nyong’o), jovem viúva com outros três filhos.

“Não queria fazer um retrato do desespero”, explicou a diretora. “Existe uma vibração, mesmo na precariedade. Como Robert diz a Phiona, foque no que tem, não no que não tem. Isso é muito importante para mostrar ao mundo. Porque nós temos tanto e nos esquecemos de sonhar.” Para David Oyelowo, inglês de ascendência nigeriana, era importante mostrar uma menina que não tem medo de seus sonhos, apesar de seu entorno desfavorável. “Quem foi marginalizado de alguma forma, especialmente uma garota numa sociedade patriarcal, sempre está sufocado pela noção de que vale menos. E, quando você ouve constantemente que vale menos, começa a acreditar nisso”, contou.

O ator tem procurado trabalhar com cineastas do sexo feminino, justamente para trazer à tela um novo olhar. “Se Rainha de Katwe tivesse sido dirigido por um homem, tenho quase certeza de que meu personagem seria o protagonista. Como é a Mira Nair, ela foca na garota, e é isso que faz toda a diferença”, ressaltou ele.

Na opinião de Oyelowo, é preciso buscar ativamente a mudança. “É necessário ser intencional. Só assim que as coisas vão mudar. Quando um produtor estiver procurando um diretor, a lista precisa ser 50% composta por mulheres”, analisou.

Para Phiona Mutesi, sua transformação em enxadrista mudou muita coisa: ela voltou para a escola, comprou uma casa para a mãe e hoje não falta comida em casa. “Meu plano é ir para a universidade, estudar Direito para dar assistência legal a quem mora em Katwe”, afirmou. Graças ao filme, foi pela primeira vez ao cinema, para ver sua própria história na tela. Agora, espera que a produção sirva como esperança e encorajamento para outras meninas e meninos como ela.

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