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Descaso

Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou, viu?!

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Eduardo Monteiro

E chegou o carnaval! É, aquele mesmo carnaval que os historiadores até hoje divergem sobre suas origens. Teria nascido há mais de 10 mil anos antes de Cristo, tendo como berço os cultos agrários da antiguidade; seria de data mais recente, vindo ao mundo pelos braços de Isís e do boi Ápis entre os egípcios, nas alegres festas pagãs; ou ainda, estaria na conta dos hebreus, com suas bacanais, lupercais e saturnais da gloriosa Roma antiga?

A história nos envolve e nos fascina, ao mesmo tempo que se repete, com suas próprias leis cíclicas, trazendo, por vezes, dúvidas sobre datas, personagens e episódios. Quem teria feito o quê, quando, como e onde?

Mas se há dúvidas e divergências quanto a mais provável origem dos festejos carnavalescos e como eles foram se consolidando enquanto “eventos rituais”, seu “nascimento”, aqui no Brasil, parece mais ou menos pacificado e sua principal influencia, atribuída à chegada da Missão Artística Francesa em 1818, que teve em Debret, o seu principal “porta-voz”.

O Entrudo era a denominação dos festejos populares no Brasil, que nem de longe lembravam a sofisticação e o requinte dos festejos realizados no continente europeu, de onde vinham influências do colonizador. A partir de 22 de janeiro de 1840, com a realização no Hotel Itália, no Largo do Rocio, teria lugar o primeiro baile do carnaval carioca, denominado “Baile de Máscaras”.

A novidade prosperou. Vieram bailes cada vez mais suntuosos, grandes sociedades, clubes carnavalescos, corsos, ranchos, blocos, cordões; era a “organização e compartimentação” do carnaval se estabelecendo, a princípio sem um rítimo musical próprio, se cantava, dançava ao som de vários ritmos musicais, com destaque para a Polca. Em 1846, surge uma sociedade chamada “Constante Polca”, que se encarrega dos bailes.

A polca, que nos anos próximos a 1917, lá na Cidade Nova, em Casa de Tia Ciata, esteve também presente na mistura contida no balão de ensaio que mesclou maxixe, batuque africano, tango e outros ritmos, pelas mãos dos “alquimistas” Donga, Pixinguinha, João da Baiana, Heitor do Prazeres, Caninha, Mauro de Almeida e outros, que concluiram o formidável experimento conhecido como Samba.

Esse tal de samba, ao lado das marchinhas, que tiveram como pioneira a famosa “Ó Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga, composta em 1899 e tida como a primeira marchinha carnavalesca, seguiu abrindo seus próprios caminhos, até o ano de 1929, quando se realiza na casa de Zé Espinguela,consagrado pai de santo e jornalista, no bairro de Engenho de Dentro, o primeiro concurso-não desfile- de escolas de samba, vencido pela Portela. Em 1932 o jornal do Sports organiza o desfile. E a partir de 1935, o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, oficializa o que viria a ser chamado de o “Maior Espetáculo da Terra”.

Esse espetáculo contagiou o mundo, uniu fronteiras, aproximou e apoiou “parentes” próximos como o frevo, a toada carnavalesca, o coco, o maracatu, o axé e tantos outros a romperem barreiras e também brilharem no exterior. Desde sempre, ninguém resiste à musicalidade brasileira.

O carnaval tem resistido às mais absurdas e inescrupulosas tentativas de “doutrinação e submissão”, quer seja pelos grandes conglomerados financeiros que só visam o lucro, e se licham para a integridade cultural; quer seja pelos grandes grupos de comunicação, que querem é ter audiência, pouco se importando com a qualidade de sua programação. Que talvez possamos chamar de verdadeira “Lei do Cão.”

Voltando no tempo até o final dos anos 1950 e início de 1960, encontramos um cenário onde o samba era o protagonista como elemento artístico e cultural brasileiro. A ponto de ser componente indispensável na bagagem dos pioneiros que chegaram para realizar o sonho de JK, vindo de todos os cantos: a Nova Capital.

O samba floresceu na Nova Capital. O Salgueiro veio antes mesmo da inauguração, para saldar os 57 anos de JK e Natal da Portela passou por aqui para abençar a ARUC. Os glamourosos desfiles de fantasias, tiveram no Teatro Nacional e Hotel Nacional a presença de referências nacionais como Clóvis Bornay, Ilza Carla, Evandro de Castro Lima, Mauro Rosas e outros. Uma verdadeira legião de artístas de vários segmentos prestigiavam Brasília: a Capital da Esperernça.

Os desfiles de escolas de samba cresciam e as agremiaçõesse se fortaleciam, mesmo com a inconstância do local de desfiles e a imprevisibilidade da subvenção. Os desfiles das escolas de samba já foram realizados na Rodoviária, W3 Sul, Eixo Sul, Torre de TV, Autódromo, Taguatinga, Ceilândia, Estacionamento do Ginásio Nilson Nelson…Viajante, mambembe, andarilho…

O atual governo, no entanto, resolveu dificultar um pouco mais as coisas para as já combalidas escolas de samba do DF. Impôs um inédito jejum de 3 anos sem desfiles; criou mecanismos fiscais para apoiar apenas blocos de rua; desconsiderou estudiosos e pesquisadores do assunto em Brasília; contratou como consultor um “aprediz de feiticeiro”, como se fosse o “Mágico de OZ”.

A magia do carnaval que tanto encanta, alegra e produz desenvolvimento social, na capital do país é apenas um punhado de areia a escorrer pelos dedos e mãos inábeis de presunçosos e incompetentes gestores da cultura. Estamos no meio do deserto. As escolas fazendo “ponta” nas apresentações dos blocos. Os dirigentes, lenientes, infelizmente… Essa é a patética cena contemporânea do carnaval de Brasília.

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