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Paturebas na frente

Saem as olarias da Papuda para dar lugar a S. Sebastião

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Um dos pioneiros, Antonio Soares Ferreira, de 70 anos, veio de Patos de Minas com os pais para trabalhar nas olarias. O ritmo nas pipas – locais de socar o barro – e nos fornos era frenético. Sua mãe, Rita, não resistiu à precariedade do lugar e voltou doente para Minas, onde logo morreu. Como a área era concessão do governo a empresários para produzir tijolos, funcionários que moravam nas terras das olarias só podiam construir casas improvisadas de madeira e madeirite.

Nas olarias, Antonio conheceu Leontina Caldeira, hoje com 62 anos, mineira de Unaí, que trabalhava de doméstica nas casas dos primeiros funcionários públicos de Brasília. Tiveram sete filhos. Foi uma época áspera. Tempos depois, o governo construiu na região o Presídio da Papuda. A área das olarias foi batizada de Agrovila São Sebastião. Lá viviam pouco mais de dez mil pessoas.

Foi nos anos 1980, quando moradores de outras cidades montaram barracos ao redor das olarias, que Antonio realizou o sonho de abrir o próprio negócio. Comprou um burro para amassar barro, construiu um forno e pôs os filhos para ajudar. A Olaria Veredas virou um lugar de resistência num cenário de invasões e destruição de fontes de águas e de parte do buritizal que deu nome ao pequeno empreendimento.

Ele tinha medo de fazer uma casa de tijolo e o governo lhe tomar a olaria. Há menos de dois anos, Antonio achou que era hora de fazer a construção. “Cheguei rapaz, quando Brasília estava em construção. Até hoje nunca deixou de crescer”, observa. “Vai mudando muito. Onde há crescimento, há benefício e malefício. Para uma cidade em construção, vem gente de todo jeito. Não tem como separar o joio do trigo.”

Em São Sebastião, hoje com cem mil habitantes, veredas que haviam sobrevivido à expansão urbana acabaram invadidas. Numa delas surgiu a Vila Green. Famílias sem renda vindas de várias regiões do País montaram barracos e casas de tijolo em aterros improvisados na área alagada. Buritis servem de apoio a caixas d’água. O pedreiro paraense Antônio Souza, 50 anos, e a diarista e babá maranhense Raimunda Nonato de Castro Magalhães, 46, moram com seis crianças numa casa sem reboco ao lado da vereda. “Tem duas semanas que não aparece um bico”, relata Antônio. “A crise complicou.” A família sobrevive com uma bolsa paga pelo governo a um dos filhos, que sofre problema de saúde. O casal teme ficar sem teto, pois o governo do Distrito Federal tem demolido casas em áreas de preservação.

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