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Saudades do Seabrão, o Mago das redações detestado pelos militares

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José Escarlate

Eu já havia deixado o Correio Braziliense quando por lá chegou o velho Seabra, no início dos anos 70, para comandar a redação. Geraldo de Farias Seabra era um pernambucano arretado, fala mansa, doce, alegre e que inspirava confiança.

A família, eu já conhecia. Sua filha Maria Betânia trabalhou comigo na Agência Nacional em tempos idos, assim como o filho, Geraldo Seabra, o Gê, que era um dos principais repórteres do jornal, quando estive por lá.

Anos depois, trabalhamos juntos eu e o José Seabra Neto, quando tocamos prá frente a divulgação do projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Isso, em 1992, e ela vem se arrastando até hoje, fazendo algumas fortunas.

Fiquei amigo de todos da família, inclusive várias vezes fui curtir os maravilhosos almoços da dona Madalena, a grande paixão do velho Seabra. Em Brasília, onde chegou no início dos anos 60, assumiu a direção da sucursal da Última Hora, passando depois pelo Correio Braziliense e Folha de São Paulo.

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Seabrão era festejado em todas as redações, onde fez grandes amigos. Um dia, veio a desaguar na Empresa Brasileira de Notícias, a EBN, onde eu dirigia o jornalismo. Muitas vezes recorri a ele, nos momentos difíceis, de sufoco. Era um reforço de peso para a agência, que precisava de gente experiente.

Normalmente, os repórteres da casa eram credenciados no Palácio do Planalto, para eventualidade de uma cobertura do presidente no DF. Era rotina. Assim também procedi em relação ao Seabra, ao Abdias Silva e outros. Enviei o pedido de credenciamento e, para surpresa minha, os pedidos foram negados. Não só isso. No caso do Seabra, os órgãos de informações determinaram sua demissão imediata. Tentei argumentar e pedi o apoio da presidência da empresa. A resposta foi “ordens são ordens”.

Velho e querido amigo, aquilo me machucou profundamente. E lá se foi o Seabra por este mundo de Deus. Entendeu o drama pelo qual eu passava e me abraçou dizendo: “Querido, isso não vai afetar em nada a nossa velha amizade” – e me deu um beijo na face, carinhosamente.

A repressão e a censura não davam trégua. Desiludido, Seabra sentiu-se perseguido, até que, em gesto extremo, deixou de lado o jornalismo e decidiu se dedicar a outra grande paixão, além da Madalena: a astrologia. Sem abandonar as redações, lançou no Correio Braziliense o “Horóscopo”. O sucesso foi imediato. A partir daí, passou a cultivar uma enorme barba, grisalha, que lhe valeu o apelido de “Mago”.

Livre dos militares, lançou o livro “Portal da Magia” e fundou o “Colégio de Magos de Brasília”.

Foi Geraldo de Farias Seabra, com outros companheiros, que lançou a semente da loja Atlântica da cidade, nos idos de 1964, ligada à Grande Loja Maçônica do Distrito Federal. A loja foi fundada na casa do Seabra, que era assessor de Imprensa da Petrobras. Ficava num confortável barraco, no acampamento da empresa.

Aqui, ele e Madalena aumentaram a família: 10 filhos, 36 netos e 15 bisnetos. O querido amigo Geraldo Faria Seabra se foi aos 85 anos de idade, dia 7 de novembro de 2008, vítima de falência múltipla dos órgãos, conseqüência de uma pneumonia. Deixou uma imensa saudade.

PV

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