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Ouro na bateia

Se há Diabo mesmo, ele é homem, sem tirar nem por

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Na volta, o Córrego São Domingos, que garimpou na infância e na juventude, já não tinha mais ouro, muito menos o mesmo volume de água. O cerrado que conheceu estava destruído. “A gente pegava (ouro) na bateia. Quando chovia muito, dava enxurrada, a gente saía para pegar.”

Antes de se empregar nas obras da BR-040, Aureliano ainda tentou a sorte no garimpo de cristal aberto na cidade vizinha de Cristalina, do lado de Goiás. Sem rodovia, a travessia do Rio São Marcos era por balsa. “A gente resolveu ir pra lá a pé. Comia rapadura com farinha e tinha medo era de onça, lobo.”

No estudo em que analisou imagens de satélite do Grande Sertão, o engenheiro florestal Guilherme Braga Neves ressalta a necessidade de aumentar o espaço das unidades de conservação para proteger não apenas a fauna e a flora, mas a biodiversidade cultural. “A redução de impactos ambientais no bioma Cerrado é de suma importância para garantir às futuras gerações a possibilidade de conhecerem os atrativos existentes.”

Foi esse mosaico de culturas que moldou uma das personalidades mais complexas e fascinantes da literatura. No romance ‘Grande Sertão: Veredas’, o jagunço Riobaldo avalia que sua narrativa tinha chegado ao final após descrever a morte de Diadorim.

“Aqui a estória se acabou. Aqui, a estória acabada. Aqui a estória acaba”, afirma, velho, aposentado da jagunçagem. Ao olhar para trás, ele avalia, no entanto, que não deixou de fazer as travessias impostas pelo tempo e acordar cedo para acompanhar o amanhecer. “E me cerro, aqui, mire e veja. Isto não é o de um relatar passagens de sua vida, em toda admiração. Conto o que fui e vi, no levantar do dia. Auroras”, diz.

“O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano. Travessia.”

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