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Ida ao vizinho

A solução! Vão os fotógrafos, ficam os repórteres

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José Escarlate

Um fato interessante ocorreu durante uma visita do presidente Ernesto Geisel a Corumbá, no antigo estado de Mato Grosso, antes do desmembramento. Ele foi à Base Naval de Ladário conhecer benfeitorias, percorreu as instalações, o arsenal de Marinha local, seguindo-se o almoço.

Às 14 horas Geisel regressava a Brasília. Fomos para o aeroporto. Havia 20 lugares para nós num voo da VASP. Decolagem, às 15 horas. As matérias, enviamos pelo telex da Base.

Pouco depois, o avião em que viajaríamos chegou de Campo Grande. Um calor abrasador. Em 15 minutos embarcamos. Meia hora depois estávamos suando em bicas dentro da aeronave, quando surge à porta da cabine o comandante do voo. Avião lotado.

”Meus amigos, lamento informar que devido ao calor, que está a mais de 40 graus, não poderemos decolar. A aeronave perde sustentação pelo ar rarefeito. A não ser que se reduza o peso, com a saída de alguns passageiros”.

Não ficamos satisfeitos. Todos desejavam voltar para casa. Vendo que havia um impasse, sobre quem saía e quem ficava, o comandante lançou sua cartada final, dando o “pulo do gato”:

”Então eu só posso dizer aos senhores que eu também tenho família e não pretendo arriscar. Se o avião decolar, ele cai”- disse sério.

Nesse ponto, quem quase caiu foi o Merval Pereira, que tem verdadeiro pavor de viagens aéreas. Ou, pelo menos, tinha. “Comandante” – disse o Merval, trêmulo -, “neste avião eu não viajo mais. Nem eu e nem o meu companheiro, Orlando Brito. Já são duas vagas” – acrescentou.

Foi quando a Liana Sabo, repórter do Correio Braziliense teve a luminosa ideia. ”Como todo jornal tem mais repórter do que fotógrafo, eles seguem viagem e nós, de texto, iremos amanhã, bem cedo”. Foi a solução. Todo mundo topou.

Depois de retirar a nossa bagagem do avião, a VASP nos alojou em um hotel da cidade, pagando ainda o jantar.

Como era cedo, resolvemos dar uma circulada. Repórter é bicho danado. Descobrimos que os táxis da cidade se abasteciam de gasolina em uma pequena cidade boliviana, chamada Puerto Suarez. Pagavam um terço do que custava no Brasil. E era um tal de táxi prá lá, táxi prá cá. Conseguimos alugar um, a preço de banana, já que o ônibus estava caindo aos pedaços.

Em cinco minutos chegamos em Puerto Suarez. Era uma pequena vila, pacata, às margens do rio Paraguai. Hoje ela tem cerca de 15 mil habitantes, mas naquela época, deveria ter uns 400, desgarrados de alguma tribo indígena da Bolívia.

Com pouco movimento, algumas casas, que eles chamavam lojas, vendiam peças de artesanato feitas de lã, já que à noite, pelo que apuramos, fazia um frio de causar inveja ao sul do Brasil. Era um trabalho bastante colorido, feito pelas índias, pois os índios eram ociosos e preguiçosos. Comprei algumas toucas, mantas e luvas para meus filhos. Puerto Suarez foi minha primeira viagem ao exterior. Como podem ver, comecei por baixo.

PV

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