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Torre de Babel

Um casal logo será uma população de cinco milhões

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Desde o lançamento de Grande Sertão: Veredas, o interior mineiro mantém a sina de mandar seus filhos para as periferias pobres de Brasília. Atualmente, a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE), como é chamada a mancha urbana de Brasília e dos 19 municípios goianos e três mineiros, abriga 4,2 milhões de pessoas. A previsão é de que, em poucos anos, chegue a 5 milhões.

O crescimento desordenado da mancha da capital se revela com o aumento das cidades ao redor do Plano Piloto. Ceilândia, cidade administrativa do Distrito Federal, tem 489 mil moradores, número superior ao das maiores cidades do Grande Sertão, como Montes Claros (394 mil), Paracatu (84 mil), Unaí (77 mil), Janaúba (70 mil), Januária (68 mil), São Francisco (56 mil), Pirapora (56 mil) e João Pinheiro (45 mil). A relação de Brasília e do Grande Sertão se dá não apenas pelo êxodo, mas pela aproximação de cidades. As mineiras Buritis (23 mil moradores), Cabeceira Grande (6,7 mil) e Unaí integram tanto o noroeste de Minas quanto a RIDE.

Do total de habitantes da mancha urbana formada a partir da construção da nova capital, 69% estão no Distrito Federal. Boa parte dos municípios do Entorno é de cidades-dormitório. O IDH do Distrito Federal chega a 0,824, um dos mais altos do País. O índice, porém, inclui toda a área do Plano Piloto, de famílias de alta renda. Desde os anos 1990, quando o então governador Joaquim Roriz criou mais de 20 cidades para abrigar migrantes, o Distrito Federal passa por um processo de favelização, com a população cada vez mais longe do Plano Piloto e da qualidade dos serviços públicos.

Nos anos finais de vida, Guimarães Rosa confidenciou a amigos que pensava em escrever um livro do estilo e da monumentalidade do Grande Sertão: Veredas ambientado numa cidade. “Ah, tempo de jagunço tinha mesmo de acabar, cidade acaba com o sertão. Acaba?”, questiona Riobaldo. Em outra profecia, o jagunço diz: “Ah, vai vir um tempo, em que não se usa mais matar gente”.

Redutos de migrantes, porém, contradizem o protagonista do romance. São Sebastião, por exemplo, tem 34,3 mortes por cem mil moradores. Na vizinha cidade de Paranoá, o índice chega a 90 por 100 mil habitantes, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. A média brasileira em 2014 foi de 29,1, segundo o Mapa da Violência.

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