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Povo cansou?

Vem Pra Rua reúne alguns gatos pingados nas capitais

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Carolina Paiva, Edição

Os milhões de brasileiros que saíram às ruas nas duas últimas manifestações em favor da Operação Lava Jato e de combate à corrupção, preferiram ficar em suas casas neste domingo, 26, ao invés de comparecerem em massa aos atos promovidos pelo movimento Vem Pra Rua. Teve gente que foi, é verdade, mas, nos dizeres de algumas pessoas, não passaram de gatos pingados, contados a dedo.

Em muitas capitais, os manifestantes também protestaram contra a lista fechada, modelo de sistema eleitoral que está em discussão. De acordo com os organizadores, os movimentos Vem Pra Rua e Brasil Livre, foram programados atos em 130 cidades.

São Paulo – Os manifestantes reuniram-se na Avenida Paulista, região central da capital paulista, para protestar a favor da Operação Lava Jato, contra o financiamento público de campanha, o voto em lista fechada e o foro privilegiado. Vestidos e verde e amarelo, os participantes concentraram-se próximos a oito carros de som espalhados pela avenida. Uma faixa de 100 metros com os dizeres “fim do foro privilegiado” foi esticada na avenida.

O ato começou por volta das 14h e foi convocado por meio das redes sociais. Às 16h, os manifestantes se dividiram. A maior concentração ocorreu em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), onde estava o carro do Vem pra Rua, um dos organizadores da manifestação. O ato foi pacífico e terminou por volta das 18h – horário em que a avenida é reaberta para circulação de veículos. A Polícia Militar e os organizadores não divulgaram números de participantes.

“A combinação dessas coisas resulta em impunidade e confirma privilégios para o futuro. É a perpetuação de poder para os políticos que estão ajudando a levar o Brasil para o pior caminho possível. Não são todos, mas é a maioria. Nós não somos contra a classe política. Nós precisamos deles para nossa democracia, mas precisamos de partidos e políticos que pensem no povo e não nos próprios interesses como é hoje”, disse o coordenador do Vem pra Rua, Rogério Chequer.

Para o coordenador do Movimento Brasil Livre Kim Kataguiri, outro grupo organizador do protesto, o financiamento público das campanhas políticas significa obrigar a todos a financiar em um momento de crise econômica. “Também não concordamos com a lista fechada porque ela diminui o poder de escolha do eleitor, que não escolherá o candidato, mas sim a legenda.”

O MBL levou uma pauta específica que trata da aprovação do Projeto de Lei 722, que suprime um dos artigos do Estatuto do Desarmamento, e uma emenda para a Reforma da Previdência, elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que cria um novo sistema previdenciário para os nascidos a partir do ano 2000.

A dona de casa Sandra Salatini foi ao ato com o marido e a filha de 16 anos por não concordar com o atual cenário político. “Do jeito que está não dá. Não podemos mais ficar calados, temos que tomar um atitude, já que não podemos confiar em nenhum político. Eles só ficam legislando em causa própria para se precaver do que pode ser feito contra eles”.

O empresário Oscar Antônio Neto acredita que chegou a hora de “a população ir para as ruas e batalhar por um país melhor”.

Ocorreram também manifestações no interior do estado. A maior foi em Campinas, onde os organizadores estimam que 2,5 mil pessoas participaram do ato. Em Jundiaí, estima-se que mais de 1 mil pessoas tenham ido às ruas – a polícia não divulgou números.

Rio – Durou cerca de duas horas a manifestação organizada pelo Movimento Brasil Livre (MBL) na Avenida Atlântica, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Mais de 150 mil pessoas confirmaram presença no Facebook. Por volta das 11h, início do evento de apoio à Operação Lava Jato, da Polícia Federal, a organização falou em expectativa de 20 mil a 30 mil participantes. Mas, as projeções se frustraram na manhã de forte sol no Rio e pouco mais de mil pessoas se arriscaram a ir ao evento.

A previsão era concentrar as 10h e prosseguir até 14h. Na prática, o protesto durou de 11h às 13h, quando foram encerradas as falas em cima dos carros de som. Policiais militares que faziam a segurança se negaram a estimar o tamanho da manifestação.

Belo Horizonte – Na capital mineira, a manifestação ocorreu na Praça da Liberdade. A mobilização foi realizada pelos grupos Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Patriotas, que lideraram os atos a favor do impeachment de Dilma Rousseff no ano passado.

Os manifestantes contaram com um palco e dois carros de som para fazer discursar. Os organizadores calcularam em 4 mil participantes. A Polícia Militar não fez estimativa de público.

Uma das bandeiras apresentadas no ato foi o fim do foro privilegiado. Segundo Silas Valadão, líder dos Patriotas, seria uma forma de impedir seletividade dos processos no Supremo Tribunal Federal (STF), retirando a prerrogativa dos deputados, senadores, ministros e presidente da República de serem julgados unicamente pela Corte.

Os manifestantes também protestaram contra a lista fechada nas eleições, a anistia ao caixa 2 e o aumento dos recursos do fundo partidário. Segundo a médica Kátia Pegos, líder do Vem Pra Rua em Minas Gerais, os parlamentares estão se movimentando para se blindar da Operação Lava Jato. “Eles querem manter o foro privilegiado e agora estão se articulando para aprovar o voto em lista, o que seria um grande retrocesso em um país que já saiu às ruas para pedir Diretas Já. Você vota no partido e o partido coloca os caciques de sempre, muitos dos que estão sendo investigados”. Os manifestantes não fizeram críticas ao presidente Michel Temer.

Sobre a reforma da Previdência, os grupos ainda não têm posição fechada. Para o Vem pra Rua, reformas são necessárias, mas não devem ser feitas sem participação popular. “Não dá para manter benefícios para os políticos, o Judiciário, os militares. A regra tem que valer para todos. E também achamos pesado 49 anos de contribuição para alcançar a aposentadoria integral. É o que posso te adiantar, mas ainda não temos uma posição fechada e estamos estudando”, diz Kátia Pegos.

Por outro lado, Silas Valadão vê avanços na proposta que tramita no Congresso. “Estão pegando pontos mais frágeis e mais discutíveis para demonizá-la e ignoram os pontos positivos que deixarão a Previdência mais enxuta. Hoje, o cidadão fica fazendo plano de previdência privada porque sua aposentadoria não dá para nada”, disse, acrescentando que defende o projeto de terceirização aprovado na Câmara, como forma de geração de emprego e adequação do Brasil à uma realidade mundial.

O governador Fernando Pimentel também foi alvo da manifestação. “Nós esperávamos que o judiciário fosse mais célere para nos poupar desse governo. Estamos incomodados com a cooperação institucional para sua manutenção no poder”, diz Kátia Pegos.

Pimentel foi denunciado em maio pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da Operação Acrônimo. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a abertura de uma ação penal contra o governador dependeriada autorização de dois terços dos deputados estaduais da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O assunto será analisado pelo STF em abril.

Recife – No Recife, os manifestantes se concentraram na Avenida Boa Viagem, na zona sul da cidade, por volta das 10h. Usando roupas verde e amarela, levavam faixas em apoio à Operação Lava Jato e ao juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações na Justiça Federal.

A manifestação seguiu pela orla até o 2° Jardim, onde se dispersou por volta das 12h30. Os organizadores e a polícia não divulgaram número de participantes.

Brasília – Na capital federal, os manifestantes reuniram-se na Esplanada dos Ministérios. Uma das principais pautas de reivindicação foi contra a lista fechada, que vem sendo defendida por vários políticos. O juiz federal Sérgio Moro e o coordenador da força-tarefa da Lava Jato no MP, Deltan Dallagnol, foram lembrados.

O protesto começou às 10h e terminou ao meio-dia, com um enterro simbólico do que os manifestantes chamaram de “velha política”. As lápides foram levadas para a frente do espelho d’água do Congresso Nacional. Em cada uma, havia a foto de um político. De acordo com a Polícia Militar, 630 pessoas participaram do ato.

Curitiba – Cerca de 5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar que dava segurança ao evento, e 20 mil conforme os organizadores, participaram das manifestações contra a corrupção e em apoio à Operação Lava Jato, em Curitiba.

Organizada pelos movimentos Vem Pra Rua e Brasil Livre, além do Libra – Livre Brasil, os protestos se dividiam entre várias pautas, desde a campanha pelo desarmamento, pedidos de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apoio ao juiz federal Sérgio Moro.

O comerciante Paulo Boldrin disse que o protesto é válido, mas ficou um pouco confuso com as pautas. “Falaram muitas coisas, mas uma coisa é certa, a classe política precisa ser passada a limpo”.

Outro grupo preferiu atacar o PT e os professores estaduais. “A APP é um bracinho do PT e isso precisa mudar”, afirmou Denise Canto.

Salvador – Manifestantes vestidos de verde e amarelo e carregando bandeiras do Brasil foram às ruas para manifestar apoio ao juiz Sérgio Moro e a Lava Jato. O ato neste domingo, 26, aconteceu com um carro de som e um trio elétrico desde as 9 horas da manhã, no Farol da Barra, e foi encerrado por volta das 12 horas no Cristo. Entre as principais pautas estavam o fim do fundo partidário, a escola sem partido e o fim do foro privilegiado, além do apoio às investigações de corrupção.

Os organizadores do movimento, afirmam ter levado 1.500 pessoas às ruas na capital baiana e destacaram que o movimento é apartidário e, por isso, abrange muitas questões. A reforma da Previdência não foi alvo do protesto. Segundo eles, é preciso ter uma reforma, mas com diálogo entre as diversas categorias e setores da sociedade. A Polícia Militar não divulgou o número de participantes.

A organização não esperava pela manifestação ostensiva do grupo intervencionista da Bahia, que deseja o retorno do regime militar.

“A intervenção militar é necessária já. Não podemos aceitar essa bagunça que está ocorrendo no Brasil”, garantiu o advogado Tito Cavalcante de 55 anos. Alguns manifestantes carregavam cartazes e faixas verde e amarelas pedindo que as Forças Armadas assumam o poder.

Do alto do trio, a jornalista e militante do Partido Social Liberal (PSL) Priscila Chammas garantiu que, por ser uma defensora da democracia, assim como o grupo de organizadores do evento, a manifestação de apoio a intervenção foi aceita. Porém, os organizadores do movimento deste domingo não são a favor de nenhuma ditadura. “Nem mesmo a Militar”, disse Priscila, o que gerou um certo desconforto e vaias ao grupo de apoio aos militares. A jornalista, contudo, foi bastante aplaudida.

A Associação de Apoio aos Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Mentais (AFATOM-BA) também protestou contra o não fechamento dos hospitais psiquiátricos na Bahia através da Secretaria de Saúde Baiana (SESAB).

A caminhada teve a participação e apoio do Movimento Brasil Livre (MBL), do Vem Pra Rua Brasil, do Nas Ruas e da Ordem dos Médicos do Brasil (OMB). O ato começou e terminou com o Hino Nacional e teve ainda uma saudação ao Senhor do Bonfim. Uma leve chuva ajudou a dispersar um maior número de pessoas nesta manhã no Farol da Barra.

Porto Alegre – Em Porto Alegre, a manifestação de apoio à Operação Lava Jato ocorreu no Parque Moinhos de Vento, o Parcão, por volta das 15h. O movimento foi tímido, comparado aos outros protestos ocorridos no ano passado em prol do impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

A avenida Goethe esteve interditada entre as ruas Mostardeiro e 24 de Outubro, mas não chegou nem perto de ser completamente tomada. Estimativas informais de participantes dão conta de algumas centenas de pessoas estiveram no local.

Do alto de um carro de som, lideranças de movimentos liberais, como o MBL (Movimento Brasil Livre), se alternavam ao microfone. Entre eles o deputado estadual Marcel Van Hattem (PP-RS). “Precisamos apoiar a lava jato para fazer a limpeza da classe política e empresarial corrupta”, afirmou.

Além de palavras de apoio à Operação Lava Jato e ao juiz federal Sérgio Moro, os presentes pediam a prisão de Dilma e do ex-presidente Lula, pregavam o direito ao porte de armas e o combate ao voto em lista. Não foram registradas manifestações contrárias ao presidente Michel Temer. O ato chegou ao fim por volta das 17h10. A reportagem tentou contato com a Brigada Militar e o MBL para estimar o público presente, mas os telefonemas não foram atendidos.

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