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Que memorial, que nada

Brasília ficou na saudade… Só Sampa tem Renato Russo

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Autor/Imagem:


Wemerson Santos e Mariana Alves
Colaborou Rebeca Seabra

O aviso é dado de forma quase imperceptível, logo de cara: “Não toque nos objetos”. É preciso, de fato, aguçar a atenção para captar a mensagem que pede extremo cuidado com os itens que ajudam a narrar a história de um artista cuja obra ainda é um alento para os brasileiros. “Bem-vindo à exposição Renato Russo”, diz outro aviso. A atenção aos informes vira uma disputa com a atenção voltada à história de um artista ímpar na cultura musical brasileira.

Nas fotografias ao redor, por exemplo, todas enfileiradas no Museu da Imagem e do Som (MIS) é possível apreciar um Renato com olhos que formavam um universo de emoções silenciosas e sem fim.

Renato Manfredini Júnior, ou da forma mais conhecida, Renato Russo (1960-1996), ainda faz questão de ocupar um lugar singular na música brasileira. Nascido no Rio, feito criança e adolescente em Brasília e voltado para o Rio de Janeiro em um dado momento de sua carreira, ele não se interessou em integrar nenhum dos nichos do métier – nem o brasiliense, nem o paulista, nem o carioca. Ele era brasileiro.

E é esse brasileirismo pelo qual trafegava Renato Russo que o público encontrará no MIS. Ali é possível ver de perto objetos pessoais, peças de vestuário, fotografias, manuscritos, instrumentos musicais, documentos escolares, desenhos, cartas de fãs, além de prêmios, fanzines, folhetos e impressos variados que percorrem toda a sua trajetória.

Ali, a exposição que presta homenagem ao ícone da música brasileira pretende ficar até 28 de janeiro de 2018.

Enquanto isso, os fãs brasilienses de Renato Russo vivem um clima de incerteza e euforia em relação ao já anunciado Memorial Renato Russo – espaço que pretenderia unir os fragmentos da vida do artista e deixar ao alcance do público.

Uma porção de fãs mais dedicados afirma que é uma iniciativa importante, no entanto sem lastro. O motivo do pessimismo é simples: não há em Brasília a existência de itens suficientes do acervo do cantor para justificar a criação de um memorial.

Com ou sem acervo, alguns nomes de peso do mundo artístico clamam pelo espaço. Entre eles Letícia Sabatella, Zélia Duncan, Dinho Ouro Preto e Matheus Nachtergaele. De acordo com a Secretaria de Cultura do Distrito Federal, o Memorial, se sair do papel, o que fica cada vez mais distante, não contará no acervo com itens pessoais do artista.

“Haverá apenas obras de artes feitas por artistas locais e esculturas em homenagem ao cantor”, avisa o órgão. Ou seja, um apanhado de coisas, nunca um memorial. Falar mais que isso é conto da Carochinha, história para boi dormir. Uma ilusão que o governo tentou vender, mas caiu na real. Só falta jogar a toalha.

Exposição homenagem – E enquanto o imbróglio do Memorial Renato Russo em Brasília mergulha na escuridão, sem contornos melhores definidos, a exposição dedicada ao artista ganha musculatura e público fiel em São Paulo. Trata-se de uma homenagem que é resultado de uma vasta pesquisa realizada no acervo até então existente no apartamento – localizado no Rio de Janeiro – onde Renato viveu no período de 1990 a 1996.

O trabalho do CEMIS (Centro de Memória e Informação do MIS) teve início em março de 2015. Desde então, a equipe vinha trabalhando na organização e conservação de objetos e documentos. Além disso, o grupo realizou um intenso trabalho de pesquisa que contextualiza a documentação e relaciona o acervo ao processo criativo de Renato Russo.

Até aqui, o que se sabe, é que a exposição dedicada ao cantor e que pode ser apreciada no MIS é sucesso de público. Questionados sobre um possível empréstimo à Secretaria de Cultura de Brasília do acervo hoje aos cuidados da Legião Urbana Produções, porta-vozes da entidade não quiseram se pronunciar. Nem deveriam. Até porque, o que o Governo de Brasília tem apregoado sobre o falado memorial, não passa de balela.

Musical na Esplanada – Mas os fãs brasilienses não ficarão de todo órfãos. Ao menos neste sábado, 22, quando a cidade receberá uma versão do premiado espetáculo “Renato Russo – O musical”. A homenagem acontecerá nas proximidades do Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, às 19h. Aberto ao público, ninguém paga nada.

A trajetória de Renato Russo, vale lembrar, transcende o tempo. As letras icônicas de “Eduardo e Mônica” e “Que País é Esse” já fazem parte do vocabulário brasiliense. Contestação, rebeldia e amor são alguns dos temas presentes nas canções do artista que também serviram de base para o espetáculo.

A juventude punk-rock em Brasília, a formação da primeira banda, “Aborto Elétrico”, até o auge com a “Legião Urbana”. O quebra-quebra num show na Capital Federal e pequenos registros com drogas moldam a encenação da peça.

O musical traz ao público 22 canções que contam um pouco da vida do cantor. A banda “Arte Profana” faz o som da trilha do espetáculo, com teclado, guitarra, baixo e bateria. Bruce Gomlevsk é o protagonista do musical solo e tem a responsabilidade de conduzir o público a reviver as memórias de Renato Russo.

A peça é escrita por Daniela Pereira de Carvalho e dirigida por Mauro Mendonça Filho (Consagrado com o Prêmio Shell em 2006 pelo trabalho). Ao longo de mais de uma década o musical foi assistido por 200 mil pessoas e percorreu mais de quarenta cidades, num total de 340 apresentações.

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