‘Celina, fascista, deve sair; Ibaneis volta ou dá Wellington?’

Após Notibras ter publicado, com a prévia confirmação, a declaração de Celina Leão (PP) de que a responsabilidade dos ataques terroristas de 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes deveriam ser atribuídos às mais altas autoridades da República, apontando e jogando a bomba com o pavio aceso diretamente em direção ao Palácio do Planalto, o estouro foi inevitável.

Com a matéria reproduzida por diferentes integrantes de grupos de WhatsApp de juristas (advogados, promotores, procuradores, juízes e desembargadores, não necessariamente na ativa), a maioria dos comentários foi de que Ibaneis Rocha (MDB) precisa voltar ao cargo, e a governadora-tampão deve ser riscada do mapa.

Mas também surgiram vozes em defesa de Celina Leão (PP), mesmo que quase inaudíveis. Criada a celeuma, fica a dúvida no ar: Brasília viverá uma nova Caixa de Pandora, agora de teor político, com as renúncias dos números 1 e 2 do Buriti, que passaria a ser ocupado por Wellington Luiz, presidente da Câmara Legislativa?

Diante do quadro atual, segundo fontes jurídicas ouvidas por Notibras, tudo pode acontecer. Há o reconhecimento, porém, de que a situação está mais favorável para Ibaneis, depois de o MP declarar não ter encontrado materialidade na participação do governador afastado nos atos golpistas, e a PF sugerir a devolução do celular dele, já devidamente periciado.

Notibras debruçou-e nos últimos dias sobre as postagens nos grupos Sinadv, Fogo no Parquinho, Frente Ampla Democrática, Advogados pela Democracia, Defesa da Justiça e Advocacia & Politica, entre outros. Se fosse para registrar um placar contra versus a favor, Ibaneis derrotaria Celina de goleada. Quanto a Wellington Luiz, por tratar-se de mera suposição (a saída do governador e da vice), o deputado, até prova em contrário, fica no banco de reservas e não entra em campo.

Vejamos, agora (sem ordem cronológica, e mantendo-se os integrantes dos grupos no anonimato), uma parte do que se postou:

“Não aguento nem ver essa Nojenta!”, numa referência à governadora-tampão. (Ela) “continua mantendo-se aliada à extrema direita… pois sabe que é herdeira do Ibaneis e vai alçar voos maiores tentando ser eleita ao Buriti…”.

Na mesma linha de raciocínio, outro internauta observou que “como o Distrito Federal possui maior eleitorado à direita, então ela vai continuar fazendo esse jogo. E por identificação ideológica e mau caratismo também”.

Os ataques a Celina não pararam por aí: “(…) Ela vai continuar fazendo o ‘gado’ apoiar esse tipo de político”. Sim, acrescentou outro, enfatizando que “todo aquele que se aliar a esta fascista é um fascista”.

Entretanto, também foram registrados momentos de descontração, quase hilários.

“Culpa do Lula que foi bonzinho demais”, frisou alguém, para espanto de muitos. E sentenciou: “Tinha que ser decretada a intervenção do Distrito Federal todo. Essa senhora junto com Mandíbu (supostamente Ibaneis) flertaram com o bolsonarismo e são os maiores responsáveis. Deveria sair do bolso dos dois (o pagamento) dos prejuízos.”

“Verdade absoluta”, escreveu um defensor que, viu-se depois, estava mais para o Cerrado do que para o sertão do Piauí.

O momento da gargalhada foi a réplica à suposta culpa do presidente da República. “Não vejo desta forma, culpar o Lula não pode e nem deve ser o caminho. Agora que esta fascista é de fato uma das maiores responsáveis eu não tenho dúvidas.” Na tréplica, ficou tudo esclarecido: “Não entendeu que a culpa que coloquei foi figurativa e irônica”. Realmente, foi a resposta: “não (entendi assim), mas, uma vez declarado, passo a concordar.”

O debate continuou: “Sem falar que é competência do GDF através da PM, segurança externa da Esplanada…”

Para outro membro de um dos grupos acima citados, “essa senhora (Celina Leão) é tão sem noção que fala das polícias legislativas que tem enquadramento em uma base territorial muito pequena e que sem elas o estrago seria maior.”

Mais alguém entrou na conversa e sugeriu que “isso (eventual omissão) é uma assunção de incompetência. Essa senhora (de novo a governadora-tampão) tem que ser afastada junto com Ibaneis.”

“Verdade absoluta”, comentou outro membro, sem deixar claro de que lado estava.

Para colocar mais pimenta na conversa, teve quem desabafasse assim: “Agora junta ela (Celina), a Damares (senadora bolsonarista), a Michele (ex-primeira-dama), e a Zambelli (a deputada que anda com arma na mão em São Paulo)…Meu Deus! A gente tá lascado….um antro de psicopatas narcisistas! Deus salve o Brasil!”

Porém, como nem tudo são flores, sobrou para o governador afastado:

“É incrível porque a questão do acampamento (no QG do Exército) não foi resolvida; e o fato de nomear Anderson Torres (ex-secretário de Segurança, atualmente preso) é totalmente ignorado…. enfim, a decisão política já está determinada, Ibaneis era um santinho, foi traído por sua PM e pelo Exército…. volte pro cargo…”

E se Ibaneis voltar? Nesse caso, sugeriu outro internauta, “que ele pelo menos comece a respeitar a democracia e não fique por ai falando aos ventos que admira muito Bolsonaro (o golpista mor)”.

“É por (causa) desses inconsequentes, sabe lá Deus como estaríamos agora, com STF dissolvido, Congresso dissolvido, só esses marginais no poder. Eles são inconsequentes… não têm a mínima noção do que é a quebra da ordem democrática”, salientou um jurista.

Esse mesmo personagem ainda disse que “mal sabem que dando o golpe eles serão as primeiras cabeças a serem substituídas por um milico…”

Alguém entrou rapidamente no debate para prever que “daqui a pouco vão liberar até o Bozo” (apelido pejorativo de Jair Bolsonaro). A resposta foi instantânea: : Isso trás desalento na vida, sinceramente… Nascemos numa época errada ou então estamos em uma espécie de limbo…”

Voltaram a ‘pedir a cabeça’ de Celina Leão: “Uma incompetente. Precisa ser afastada.”

“Verdade absoluta”, concorda alguém numa frase vapt-vupt.

“Pavoroso”, escreveu outro internauta. “Ibaneis minimizou o risco de ataques. Tudo depende de nossas escolhas”, lembrou.

Depois veio a lavagem de roupa suja entre desafetos de um mesmo grupo. “Esta fascista, amiguinha da Micheque, é a maior culpada dos atos pelo golpe. E quem for aliado dela também é um fascista.” O complemento: “Infelizmente mais perigosos do que estas são falsas pessoas que se dizem de esquerda e na verdade são aliadas desta corja.”

“Sim! Gente podre!”, alguém concordou, e ficou no canto do grupo, esperando para ver o que viria pela frente.

O que veio foi uma virada de mesa: “Verdade. Ela é do PP… Partido Vagabundo…Apoiadores do golpe. Eu vi muita gente apoiando os candidatos desse partido…”

Participações pontuais, com postagens soltas, mas dentro do mesmo contexto, também foram registradas.

“Problema maior são falsos moralistas que apoiam Celina Leão nos bastidores. Gente da pior espécie.”

“Nobre sumidade, não devemos jamais apoiar Celina ou (…) Tudo da corja do PP.”

Seguiu-se uma pausa. Os integrantes de um dos grupos acompanhados por Notibras começaram a discutir filosofia leninista, marxista, fascista, nazista… o tom era de busca do sexo dos anjos.

Quando a questão Buriti voltou à pauta, o nocaute chegou junto, de desafeto para desafeto: “Não se pode comparar (ideologia política) meramente por uma questão partidária. Agora, pessoas pedindo a bênção da Celina Leão nos bastidores e não assumirem em público é muito estranho.” (…) “É apoiador de Celina. Logo, ele é um fascista. Tem muita foto de apoiador de fascista aí.”

.Alguém observou que, no ritmo que seguia a discussão, “vai dar merda”, mas admitiu que “a democracia é assim”; Repetiram “Democracia”.

Os números do relógio digital na tela do Notebook corriam rápido como se comandados por um piloto de F1, quando o clima voltou a esquentar e um administrador de um grupo postou em negrito, mirando de novo a governadora-tampão: “Fascismo é ideologia autoritária, racial, violenta, sexista. No Brasil, tivemos com Bolsonaro. O problema é que a Celina Leão apoiou totalmente o regime com Bolsonaro. Até viajou em campanha com a Michele e isto é o que faz dela fascista”.

Seguiram-se as apostas. Se e quando Ibaneis volta. Os apontadores liberaram 10 mil reais. Tudo registrado em cartório. O prazo entre as partes é dia 15. Quarta-feira. Justamente oito dias antes de a Fênix regressar das cinzas.