O *conto* difere da novela ou do romance principalmente pelo seu *tamanho e estrutura: é mais curto, fechado e concentra-se no desenvolvimento de uma história com **apenas um ápice. Ainda assim, como toda obra ficcional, cria mundos próprios, com seres, fantasias ou eventos. No conto, encontramos narrador, enredo, personagens e opiniões. Por ser o gênero curto da prosa, **não há margem para deslizes*: em um romance, podemos pular trechos tediosos ou lê-los com menor atenção; no conto, ou somos capturados pelo clímax único ou a história não funciona.
Há quem diga que os contistas estariam “perdidos”, devido à valorização do romance em detrimento da prosa curta. Discordo. Entre nós, existem *contistas fenomenais: Dalton Trevisan, Ivan Marinho, Rubem Fonseca, Paulo Souza, Julio Cortázar, Ernest Hemingway, Karen Blixen — com seu esplêndido *A Festa de Babette —, Leon Tolstói, Machado de Assis e o moçambicano Mia Couto, entre inúmeros outros. Esses autores mostram que o conto continua *vivo e relevante*.
Rodolfo Melo e a Maestria do Conto
Com o livro Meu Deus, Mas Que Cidade Linda, de *Rodolfo Melo, sinto-me ainda mais seguro em afirmar que **o conto mantém seu lugar de destaque* na prosa de ficção. A obra apresenta diversas características que chamam a atenção: o narrador alterna-se entre *primeira e terceira pessoa*, e até mesmo muda de gênero, mostrando complexidade e domínio técnico.
Diferente dos romances, que permitem maior expansão, o conto exige condensação: *enredo, personagens, conflitos e contexto precisam estar completos em poucas páginas. Rodolfo demonstra profundo conhecimento sobre sua aldeia — a Capital da República — lembrando a célebre frase de Tolstói: *“Se queres ser universal, escreve sobre a tua aldeia.”
O autor aborda com maestria problemas sociais vividos por seus personagens, muito bem construídos e coerentes em suas características psicológicas:
* *Jonas, em *Um crime no condomínio, evidencia como as suspeitas recaem sempre sobre os mais fracos, retratando uma dura realidade preconceituosa da sociedade;
* *Josué, em *A história por trás de uma estatística, nos leva a refletir sobre o papel da polícia e o impacto das estatísticas na vida real;
* Em Caldeirão do Diabo, temos um *retratro fidedigno dos subúrbios de Brasília*, repleto de nuances sociais;
* Um lobo em pele de cordeiro apresenta um conto quase *kafkiano*, explorando preconceito e transformação do ponto de vista do outro.
Outra marca do livro é a *tragédia e os finais enigmáticos, lembrando a construção narrativa de **Machado de Assis* e *Guy de Maupassant*, conduzindo o leitor a desfechos surpreendentes e memoráveis.
Conclusão
Não me restam dúvidas: assim como foi para mim a *degustação de cada página deste belo livro, será também para você, caro leitor. *Meu Deus, Mas Que Cidade Linda merece *lugar de destaque em nossas bibliotecas*, pela riqueza de seus contos, pela densidade de seus personagens e pela habilidade narrativa de Rodolfo Melo.
*Boa leitura!*
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Daniel Barros – Escritor
