Notibras

A crônica dos dias em que só o amor escreve por nós

Faz tempo que não escrevo. E tô aqui sentada na frente do computador pensando o porquê. É que não consigo me decidir.

Vou escrever sobre o tempo que não define se fica frio, calor, chove ou venta.

Sobre como ser adulta é uma constância de fazer sem saber se tá indo pro rumo certo. De como se relacionar se tornou difícil nos tempos atuais, porque a gente quer viver, mas tem medo de viver, e aí, quando vive, fica com medo de estar vivendo demais ou de menos.

Sobre como os boletos aumentam diariamente e a gente, que inventou de ser autônomo, não sabe como aumentar a renda.

Ou, então, sobre os livros que compro mais do que leio, sobre como a umbanda é mal vista, como amizades nos sustentam, como o trem que passa no meio da cidade não é o errado, e sim a gente que construiu a cidade em torno dele, ou sobre a energia fantástica da feira de domingo…

Dá para simplesmente escrever sobre qualquer coisa! Mas ando não conseguindo escrever sobre nada!

Acho que, no fundo, eu só sei escrever sobre amor! Dez e meia da manhã de sábado passado, eu estava tentando comer um pedaço de bolo pela quinta vez, em um evento, quando a mãe da minha sócia disse “senta, senão você não vai sossegar pra comer”. Quem sou eu pra desobedecer mãe, né? Aí é aquela coisa, quando também a gente sossega e senta, esquece da vida e começa a tricotar em palavras.

Minutos depois a gente tava conversando sobre como algumas pessoas nos ferem e como essa energia só atinge a gente. Porque raiva mesmo, só fica pra gente e nem sequer chega no outro. Raiva e todos os outros sentimentos que nos engolem e nos deixam para baixo. Nesse momento eu disse “menos o amor”. Com a sabedoria das mães, ela me disse “sim, menos o amor, Thalita”. Rimos e, como se a frase tivesse entrado na gente, ficamos paradas olhando pro nada e pra tudo, certamente pensando sobre isso — eu pelo menos estava.

O amor é a única coisa que a gente joga pro universo e ele volta de bom grado pra gente. O amor é aquilo que todo mundo sente, todo mundo energiza, todo mundo se afeta, a menos que não queira, que não espere e não deseje.

O amor é algo gratuito que ninguém vê, mas todo mundo consegue plenamente sentir e fazer bem, igual brisa de mar em fim de tarde.

E não sei porque escrevo até hoje, mas sei que, no fundo, talvez eu só saiba escrever sobre amor!

Todos os amores: amores de amigo, amores de mundo, amores amorosos, amores da vida, amores de irmão.

Talvez seja por isso que ando escrevendo pouco. Porque eu, que insisto em esbanjar amor — todos os dias — me fiz um pouco descrente do amor. E pra mim, é difícil escrever sobre política, séries, exportação, comércio, educação ou qualquer coisa se não há amor! Então, escrevo pouco, por agora.

Em breve volto, para escrever sobre outras coisas, mas com amor!

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Thalita por Thalita – Sou muitas, algumas eu já fui, algumas ainda serei, mas, no fundo, sempre mudando. Jornalista por teimosia. Publicitária por conveniência. Empresária por exigência da vida. Crocheteira e escritora por acreditar nos sonhos e por precisar da arte para me expressar e sobreviver. Músicas, livros, linhas, sebos, cafés e cervejas no meio deles, me perco no tempo e me encontro na sensibilidade das pequenas coisas cotidianas. Na pluralidade do que me constitui, elegi o caminho das histórias para sensibilizar quem, assim como muita gente, acredita que a vida se faz rindo e chorando, título do primeiro livro lançado em 2024 pela Editora Autoria.
Instagram: tha_delgado

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