Na política latino-americana, gestos contam tanto quanto palavras. A permissão concedida ao presidente Lula para visitar Cristina Kirchner, agora em prisão domiciliar durante a cúpula do Mercosul, é mais que diplomacia: é a encenação simbólica de um pacto intersubjetivo entre memórias compartilhadas e alianças políticas resilientes.
Pierre Bourdieu nos lembraria que o campo político é também um campo simbólico. Lula, ao cruzar a barreira do cárcere para encontrar Kirchner, reposiciona-se como ator de uma geopolítica afetiva, onde o capital político se expressa pelo reconhecimento de trajetórias pessoais e históricas.
A Antropologia Política nos ajuda a ler esse encontro como ritual. Tal como diria Victor Turner, há ali uma comunhão liminar um entrelugar onde Estado e história, legalidade e lealdade, se cruzam. A visita é resistência ao lawfare, a judicialização da política, que tem ceifado lideranças na América do Sul. Lula, ao visitar Cristina, também visita o fantasma de si mesmo.
