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A Economia do Tempo Perdido

Há quem diga que perder tempo é fracassar. Que os anos que escapam pelas mãos são sinais de fraqueza, desorganização ou falta de clareza. Mas, quando olhamos para a vida com a sinceridade que a maturidade exige, percebemos algo muito mais profundo: perder alguns anos pode ser exatamente o que nos salva.

No plural, carregamos essa verdade. Podemos ter perdido fases inteiras relações, oportunidades, energia, fé, saúde emocional, juventude mal vivida, esperanças depositadas em lugares errados. Podemos ter investido demais em quem nunca nos enxergou, acreditado demais em promessas vazias, permanecido em espaços onde a alma já não cabia. E ainda assim, apesar de tudo isso, salvamos o resto da nossa vida.

Há algo poderoso em finalmente entender que o passado não define o destino, apenas alerta. O que se perdeu não nos paralisa; nos orienta. O tempo que parece desperdiçado se transforma em bússola. E a dor que parecia castigo se torna professor. Ninguém amadurece na alegria constante; amadurecemos no choque, na perda, na ruptura, na coragem de reconhecer que demoramos, mas chegamos.

E chegamos.

Podemos ter levado anos para enxergar o óbvio, para abandonar quem nos fazia encolher, para deixar de insistir no que já estava morto, para romper com hábitos que nos feriam. Podemos ter demorado para dizer “basta”, para nos reconhecer, para nos escolher. Mas, ao fazer isso, salvamos tudo o que ainda temos pela frente.

Porque o mais bonito dessa jornada é perceber que não importa quantos anos se perderam, importa quantas décadas ainda serão vividas de forma lúcida, digna e inteira. Importa quantas versões nossas ainda podem nascer quando paramos de insistir naquilo que nos destrói. Importa a vida que finalmente começa quando paramos de sobreviver e decidimos viver.

Salvamos o resto da nossa história quando paramos de entregar nossos dias a quem não sabe cuidar. Salvamos o futuro quando prendemos a porta que antes deixávamos aberta para a dor. Salvamos a nós mesmos quando reconhecemos que chegar atrasados é infinitamente melhor do que nunca chegar.

E, no fim, essa é a verdade mais libertadora: perdemos alguns anos, sim, mas ganhamos o privilégio de viver o que realmente importa.

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