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A enigmática figura do Mago Jesus Cristo

Entre as figuras mais enigmáticas da história humana, Jesus Cristo ocupa um lugar singular não apenas na fé cristã, mas também nos estudos do esoterismo ocidental. Diversos pesquisadores do hermetismo, da teurgia e da tradição gnóstica o reconhecem como o Mago Divino, o iniciado supremo dos mistérios do Verbo. Na tradição esotérica, Jesus não foi apenas um pregador ou profeta, mas o operador sagrado que manifestou no plano físico as leis invisíveis do Espírito.

O termo esoterismo cristão designa a leitura simbólica e interior dos Evangelhos, centrada na ideia de que os milagres de Cristo são atos teúrgicos, ou seja, intervenções espirituais que expressam a união entre o humano e o divino. Essa visão remonta às antigas escolas místicas alexandrinas e às tradições gnósticas dos primeiros séculos do cristianismo.

O conceito de mago é derivado do persa magus e do grego magoi, referindo-se originalmente aos sábios-sacerdotes da antiga Pérsia, intérpretes dos astros e das forças cósmicas. A magia, no sentido hermético, é muito mais do que um conjunto de truques ou encantamentos, pois trata-se da ciência sagrada da vontade — a arte de dirigir as energias espirituais para manifestar a harmonia divina no mundo. A prática da magia requer o conhecimento e domínio das leis que regem o Universo. Assim, Jesus é compreendido, pelos esoteristas, como o mago perfeito, aquele cuja vontade é idêntica à vontade de Deus (“Eu e o Pai somos um” – João 10:30).

Sob essa luz, os milagres de Jesus são interpretados como operações mágicas teúrgicas, ou seja, ações conscientes sobre as forças sutis da natureza em conformidade com o Amor divino. Quando transforma a água em vinho em Caná da Galileia (João 2:1-11), Jesus realiza uma autêntica transmutação alquímica, símbolo da passagem do estado inferior da matéria ao superior do espírito. Ao multiplicar os pães e peixes (Mateus 14:13-21), manifesta a lei da abundância universal — princípio da criação infinita que flui do Verbo.

Sua cura dos cegos e leprosos (Lucas 18:35-43; Marcos 1:40-45) exemplifica o poder da palavra e da fé como instrumentos mágicos de restauração do corpo e da alma. O domínio sobre as águas e os ventos (Mateus 8:23-27) revela o domínio dos quatro elementos, e a ressurreição de Lázaro (João 11:1-44) é símbolo supremo da vitória do Espírito sobre a morte, o ponto culminante da magia divina — a reintegração do homem à eternidade.

No plano simbólico, o Cristo mago é o mestre que ensina o poder da consciência desperta. Caminhar sobre as águas (Mateus 14:25) é dominar as paixões e manter a serenidade diante do caos. Curar com as mãos é canalizar a energia vital universal, o pneuma divino. Ressuscitar é despertar a centelha divina adormecida em cada ser humano.

Nos Evangelhos apócrifos, como o de Tomé e o de Filipe, o Cristo é descrito como o revelador dos “mistérios do Reino”, portador de um ensinamento iniciático reservado àqueles “que têm ouvidos para ouvir”. Em perspectiva hermética, Jesus representa o Sol espiritual, o Logos que irradia luz e ordem ao cosmos. A Cruz, em sua dimensão esotérica, é o símbolo da união dos quatro elementos — fogo, água, ar e terra — e da ascensão da alma pela vertical da luz.

O esoterismo cristão contemporâneo, herdeiro das escolas gnósticas, rosacruzes e teosóficas, compreende o Evangelho como um manual de iniciação interior. Os “milagres” são, nesse sentido, metáforas de processos internos de purificação, transmutação e iluminação. O Cristo, então, não é apenas um ser histórico, mas o Mestre interno que habita em todo homem e mulher que desperta para o amor, a sabedoria e o poder do Espírito.

O Mago Jesus Cristo, portanto, é aquele que realiza o milagre supremo: transformar o ser humano comum em um instrumento da Divindade, recordando a máxima hermética que ecoa também em suas palavras — “Em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e as fará maiores ainda” (João 14:12).

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Hussein Sabra el-Awar
Membro Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
@colegiodosmagosesacerdotisas

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