Ser forte o tempo todo cansa. E ninguém nos avisa que isso também é uma forma de morrer um pouco.
Desde pequenas, somos treinadas para sermos rochas. A filha que cuida dos irmãos. A mulher que sustenta a casa. A esposa que aguenta. A mãe que nunca chora. Como se nossa existência tivesse que ser uma constante encenação de resistência. Mas como diz Angela Davis, “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”
E esse movimento é, muitas vezes, solitário.
A mulher forte é uma invenção conveniente. Serve para manter a máquina funcionando. Enquanto ela cuida de tudo, ninguém cuida dela. Enquanto ela levanta todos, ninguém percebe quando ela própria está no chão. Como diz a psicanalista Maria Rita Kehl, o sofrimento feminino é sempre desacreditado patologizado, silenciado, interpretado como fraqueza.
Mas ser forte sem pausa não é virtude: é violência internalizada. Bell Books diria que essa força compulsória é o avesso do amor-próprio.
Porque amar-se, de verdade, inclui saber quando parar, quando pedir ajuda, quando gritar de dentro.
A mulher forte, às vezes, é só uma menina cansada. E Byung-Chul Han escreveria que o excesso de positividade e produtividade destrói a alma contemporânea e é isso que nos fazem: pedir que sejamos imbatíveis até desfalecer por dentro.
Só que há uma rebelião silenciosa nas mulheres que decidem não ser fortes o tempo todo. Que decidem descansar. Que olham para si com compaixão. Que choram na frente dos filhos. Que falam “não aguento mais” e se permitem recomeçar sem culpa.
E talvez, nesse ato de fraqueza permitida, haja uma força muito mais verdadeira: a de continuar existindo sem precisar performar.
