Recentemente, o presidente Lula participou de uma reunião na Ásia e, mais uma vez, falou sobre um tema que o acompanha há décadas: a fome. O curioso e triste é notar o quão pouco esse tipo de fala repercute no Brasil. Mesmo sendo uma questão essencial, que toca o centro da dignidade humana, o assunto simplesmente não desperta o interesse da maioria da imprensa, do debate público ou mesmo das conversas cotidianas.
Por que isso acontece? Talvez porque quem pauta o debate, quem ocupa o espaço midiático e político, nunca passou fome. Essas pessoas têm, no máximo, uma vaga ideia do que seja isso. A fome, para quem nunca a sentiu, é apenas um conceito abstrato, um problema distante, uma estatística incômoda que cabe em uma manchete, mas não em uma vivência.
Se fizermos o exercício de puxar esse assunto em nossos círculos mais próximos, veremos que ele morre rápido. É um tema que não encontra eco, porque entre nós, e isso inclui boa parte das classes médias urbanas, a fome não é um problema real. Não se fala sobre ela, e o silêncio é também uma forma de apagamento.
Lula costuma dizer que a fome não dói fisicamente. Ela dói de outro jeito: dói na dignidade, na esperança, na alma de quem acorda sem saber se vai comer. E talvez o Brasil tenha sorte de ter um presidente que sabe o que é isso na pele. Porque só quem já sentiu pode compreender a urgência de fazer da alimentação um direito e não um privilégio.
O país, aliás, tem muito a ensinar ao mundo sobre o enfrentamento da fome. Programas como o Bolsa Família, a merenda escolar e tantas outras políticas públicas já mostraram que é possível mudar a realidade de milhões de pessoas. E Lula tem levado essa experiência adiante. Durante a presidência brasileira no G20, o tema ganhou um grupo de trabalho específico, que se reuniu em Roma, e o presidente tem insistido nessa pauta em todos os fóruns internacionais.
Num tempo em que o mundo fala de tarifas, sanções e guerras comerciais, Lula insiste em falar do básico: das pessoas que precisam comer. É um gesto político e humano de enorme significado. Mas, infelizmente, não é isso que rende manchetes.
Tudo começa por aí, por um prato de comida. Todos os outros direitos sociais, da educação ao trabalho, da saúde à cultura, só existem plenamente quando a fome deixa de ser parte do cotidiano de um povo. E, enquanto o Brasil não voltar a se indignar com a fome, continuaremos convivendo com ela como se fosse um problema sem solução, quando, na verdade, é, antes de tudo, uma questão de escolha e de prioridade.
