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A Força Que Só Aparece Depois da Ruína

Há histórias que parecem exageradas até que a vida nos coloca dentro delas. Sansão, por exemplo, só venceu quando perdeu tudo. Foi cego, humilhado, acorrentado, reduzido ao que nenhum ser humano imagina sobreviver. E, paradoxalmente, foi exatamente ali, na escuridão mais profunda, que ele se lembrou de quem era.

No plural, reconhecemos esse movimento porque já passamos por isso em outras formas: momentos em que tudo ruiu, em que não sobrou força, em que a queda nos deixou irreconhecíveis até para nós mesmos. E, curiosamente, foi nesses instantes em que o orgulho foi esmagado, a vaidade desfeita e o controle arrancado das mãos que começamos a enxergar mesmo sem ver.

A cegueira de Sansão não foi somente física; foi um símbolo daquilo que tantas vezes vivemos. Ele não enxergava apenas porque tinha perdido os olhos ele não enxergava porque antes tinha perdido o propósito. E, como acontece conosco, só a dor profunda teve força para devolver a lucidez que a autossuficiência havia roubado.

Ser humilhado, acorrentado, diminuído isso não o destruiu. Isso o despiu. E há uma diferença imensa entre ser destruído e ser despido.

Quando tudo se foi, quando o barulho cessou, quando não havia mais conquista alguma para exibir, ele finalmente se encontrou. Perdeu o mundo para recuperar a identidade.

E nós sabemos: às vezes, precisamos perder tudo o que nos sustentava por fora para reencontrar o que nos sustentava por dentro. Precisamos ser quebrados para lembrar do que esquecemos. Precisamos ser privados da nossa força para finalmente usar a força que sempre foi nossa aquela que não depende de aparência, aprovação ou controle.

A queda de Sansão não foi o fim. Foi o reinício. Foi no chão que ele entendeu quem era. Foi no silêncio que ele recuperou a voz. Foi na escuridão que ele encontrou luz.

Essa história, lida com cuidado, nos ensina que há derrotas que salvam, quedas que libertam e fracassos que devolvem a alma ao seu centro. Nem tudo o que dói é perda; às vezes, é devolução.

E assim seguimos, reconstruindo a nós mesmos depois das nossas próprias ruínas, descobrindo que há uma força que só desperta quando tudo o resto desaba a força que nasce de lembrar quem sempre fomos, mas tínhamos esquecido.

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