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A Guerra Santa que matou o Sagrado e fez mães chorarem

Deus é frequentemente convocado para justificar aquilo que Ele jamais aprovaria.

Na guerra entre Israel e Irã, há mísseis e há orações. Mas as orações não sobem: ficam presas no ar pesado da blasfêmia, onde o nome de Deus é usado como selo de morte.

Israel, na sua narrativa teológica-política, evoca sua existência como desígnio divino. O Irã, por sua vez, se vê como protetor do Islã e da resistência. Em ambos os lados, há uma fé sequestrada, usada como combustível para drones, como argumento para o silêncio, como justificativa para o insuportável.

O Papa pediu cessar-fogo. Mas os mísseis não ouvem o Papa. O silêncio de Deus, que tantos teólogos já tentaram explicar, talvez não seja silêncio, mas grito sufocado. Dietrich Bonhoeffer, teólogo enforcado pelos nazistas, disse: “Somente um Deus sofredor pode ajudar.” E talvez seja isso: Deus está entre os destroços, não nos discursos.

A filósofa Simone Weil acreditava que o verdadeiro amor a Deus só se manifesta no reconhecimento do sofrimento do outro. E, no entanto, vemos líderes de Estado se ajoelhando diante de tanques, e não diante do choro das mães.

Essa “guerra santa” é, na verdade, uma profanação. O sagrado não habita discursos de ódio, nem planos de aniquilação. O sagrado mora no cuidado na criança que sobrevive, no médico que opera sob sirenes, no jornalista que registra a dor com lágrimas nos olhos.

Max Weber já dizia que a fé, quando institucionalizada, corre o risco de se burocratizar, de se tornar instrumento de poder. E hoje vemos o sagrado ser negociado entre gabinetes, entre líderes que se vestem de pureza enquanto autorizam o apocalipse.

A guerra matou o sagrado. Mas ele renasce, em silêncio, entre os escombros. Num lenço que limpa o sangue. Num pão repartido em abrigo.

Num versículo murmurado por quem ainda crê que amar é mais revolucionário do que matar.

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