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A Parte Difícil Sempre Foi Ficar

Ir embora é mais fácil que ficar. E nós sabemos disso não pela teoria, mas pela vida por tudo o que já tentamos sustentar quando o coração pediu para soltar.

Ir embora exige um passo. Ficar exige muitos. Ir embora exige decisão. Ficar exige coragem. Ir embora é imediato. Ficar é processo.

E, às vezes, o processo é doloroso demais. Porque ficar significa encarar o que nos machuca, dialogar com o que evitamos, admitir aquilo que tentamos esconder até de nós mesmos. Ficar significa confrontar a nossa própria história, revisitar traumas, perdoar falhas, olhar para as rachaduras que a rotina cria. Significa amadurecer. E, sejamos sinceros: amadurecer dói.

Por isso tantos de nós escolhem ir embora não só de lugares, mas de vínculos, de amizades, de versões antigas de nós mesmos. Muita gente foge quando a vida pede profundidade. Quando a conversa precisa acontecer. Quando o esforço precisa dobrar. Quando o amor precisa virar responsabilidade.

Ir embora é mais fácil porque a fuga dá sensação de liberdade imediata. Mas o alívio é curto. A conta chega. A dor segue. A ferida viaja junto.

Ficar, por outro lado, nem sempre significa continuar fisicamente. Às vezes significa permanecer em nós: permanecer no valor que decidimos ter, permanecer na cura que escolhemos iniciar, permanecer na construção que ninguém vê, mas sabemos que está acontecendo.

Ficar pode ser romper ciclos. Ficar pode ser dizer “não”. Ficar pode ser escolher a própria paz em vez do velho caos que já conhecemos bem.

Ficar, no fim, não é sobre o outro. É sobre nós.

Porque quando ficamos de verdade assumimos o compromisso de não nos abandonar mais. Assumimos que merecemos mais que migalhas, silêncios e descuidos. Assumimos que somos responsáveis pela nossa reconstrução, e que ninguém fará isso por nós.

Ir embora é mais fácil. Mas ficar… ficar é o que nos transforma. Ficar é o que nos amadurece. Ficar é o que nos fortalece. Ficar é o que nos devolve para nós mesmos.

E, quando finalmente entendemos isso, percebemos que a pergunta nunca foi “ir ou ficar?”, mas sim: como queremos viver daqui pra frente?

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