Não segredo para você leitor minha paixão pela natureza, ela é sem sombra de dúvida minha maior inspiração.
Você que acompanha e me lê pode imaginar quantas histórias maravilhosas vivi e vivo apenas caminhando montanha acima, passeando na praia ou apenas deitada em uma grama.
Curiosa, passei também por alguns perrengues.
Hoje, adulta, não tenho medo da maioria dos animais, no entanto, as loucuras de criança me ensinaram o receio de colocar as mãos neles, então eu me contento a registrá-los por foto.
Uma dessas lições aprendi aos nove anos.
O criador nos presentou com pequenas estrelas na terra, elas se movem e piscam tornando as noites escuras uma festa.
A essas pequenas estrelas deram o nome de vaga-lume.
Criança, eu sempre dava um jeito de pegá-los e muitas vezes manter o coitadinho preso em vidros a noite inteira.
Sua luz ia enfraquecendo, perdendo o brilho aos poucos e eu na minha inocência esperava que eles piscassem a noite inteira sem perceber que eu os sufocava até a morte sem oxigênio.
Todas as vezes eu me decepcionava com os pequenos insetos morto de manhã.
Uma lição de vida, na minha condição narcísica de criança, eu me encantava tanto com seu brilho que eu os sufocava deixando-os sem brilho e sem vida.
Aos nove anos, eu voltava da igreja, na noite escura, lua nova, eu me encantava com o céu estrelado e com os vaga-lumes.
Eu não tinha ali o costumeiro vidro, mesmo assim foi inevitável ver tanto brilho e não pegar para mim.
Ao passar por algum matinho na noite escura, vi pousado, inerte, um vaga-lume.
Ele piscou e apagou, piscou e apagou, o suficiente para que eu o pegasse,
Eu não poderia imaginar que coincidência ou repreensão da natureza, naquela noite eu aprenderia uma lição.
Prendi o vaga-lume na minha mão fechada seguindo por um pouco mais que dois quilômetros a pé com o bichinho.
No escuro, não dava para ver, abri a mão uma ou duas vezes, o vi piscar e pronto.
Chegamos em casa, minha mãe colocou meu irmão na cama enquanto aguardávamos seu retorno na cozinha completamente escura.
Enquanto meu pai ajeitava o outro irmão, minha mãe retornou acendendo as lamparinas da casa.
Empolgada, corri até a mesa, até a lamparina e abri a mão para ver meu pequeno inseto antes de colocá-lo no vidro.
Ao abri a mão, tomei um susto e comecei a gritar, joguei o bicho na mesa, fiz um escândalo deixando minha mãe desesperada.
Minha irmã sempre ao perceber do que se tratava, ria e ria.
Cansada minha mãe se irritou, jogou o bichinho para fora e zangada disse:
__ Bem feito!
Pois bem, eu tinha pavor de lagarta, o pequeno inseto era para mim um monstro paralisante e o que eu não sabia é que existe algumas espécies de vaga-lumes, a maioria tem asas, mas alguns deles são lagartas, e naquela noite, eu que tinha pavor de lagartas, caminhei com uma presa dentro da minha mão.
Foi assim que aprendi que bicho foi feito para ser livre, que é bonito na natureza e não preso, que admirar a beleza e o brilho é saber deixá-la onde ela deve estar.
