Notibras

Aconteceu em Brasília na noite de 30 de outubro de 2022

Algum lugar de Brasília, noite de 30 de outubro de 2022.

– Por que eu perdi essa porra de eleição? Deem uma boa olhada: sou mais jovem que o novededos, imbroxável. Então, por que perdi? – pergunta um cara, enquanto caminha de um lado para o outro.

Obedientes, os aspones olham e veem uma imagem bem diferente da que ele acredita transmitir. Veem não uma pessoa, mas uma ave doméstica, de quintal de terra. Não um cisne, nem mesmo um patinho feio, mas um patão desengonçado, com uma das pernas mais curta que a outra, que se move manquitolando. Começam a rir do pato manco, que fica cada vez mais puto.

– Perdeu porque o outro cara teve mais votos, presida – diz um aspone metido a engraçadinho.

O patão não acha a menor graça. Para piorar, o termo presida faz lembrar presidiário, maior medo do mimimito. Ele finge que não percebe a irreverência e continua.

– E pensar que ajudei tanto essa gente. Tirei dinheiro não pra meus filhos, não pra minha princesa, mas pra gente da palavra com p. Só de pensar nela, tenho ânsia de vômito.

– Que palavra?

– O nome feio com p.

– Puta?

– Não. Pobre – e corre para vomitar no banheiro. Volta com um fiapinho de vômito descendo pelo canto da boca, os aspones recuam com nojo.

– Pois é. Não gosto de gente da palavra com p. Uma vez declarei que o novededos gosta dessa cambada, enquanto eu gosto de rico, mas ajudei esse bando de miseráveis, tinham mais é que votar em mim. Então pergunto: por que não votaram?

Os aspones se entreolham e resolvem responder a sério, sem mimimi.

– Vai ver, os pobres (o patão tremeu só de ouvir a palavra) sacaram que tu não suporta eles. Embolsaram a grama e votaram em quem quiseram. Sabe como é: voto secreto…

– É por isso que eu queria o voto impresso, auditável…

– Mas não deu, né, presida? Nem as Forças Armadas falaram em fraude na eleição. Tu se fudeu, kkk.

Vendo que o respeito por ele havia subido ao telhado, o mimimito fez um gesto dispensando os aspones e foi coxeando em direção à porta. Mortificado, ouviu a gozação final daquela noite:

– E vê se tu não cruza com o Moro, presida. Ele é marreco, tu virou um presidente derrotado, sem poder – um pato manco. Se cruzarem, vai nascer um patureco.

– Na minha terra chamam de paturi –, informou rapidamente outro aspone, prestativo mas se- noção.

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