Talvez, só talvez, mesmo sem compromisso, a gente precise repensar o nosso relacionamento com o celular. Não tô dizendo pra abandonar, até porque “abandonar” é uma palavra muito forte, pesada, cheia de drama. E eu não quero ser essa pessoa exagerada (embora talvez o meu mapa astral tenha alguma coisa em Leão). Mas talvez, só talvez, a gente precise usar esse aparelhinho com um pouco mais de moderação.
Veja bem, antigamente era tudo tão simples. O celular servia pra ligar. Isso mesmo: fazer e receber ligações! E quem era ousado mandava um SMS. E quem era muito, mas muito moderno, jogava o jogo da cobrinha. Era o auge da tecnologia e a gente estava satisfeito. Hoje em dia, o celular é praticamente um parente. Um parente grudento. A gente acorda com ele, dorme com ele, almoça com ele, vai ao banheiro com ele (aliás, ele sabe mais dos nossos hábitos intestinais do que o próprio médico).
A gente não tem mais um celular. A gente tem um ecossistema. Tem o app do banco, do cartão de crédito, do plano de saúde, do trabalho, do delivery, do mercado, do transporte, do curso online que a gente nunca terminou, da meditação que a gente nunca meditou, da rede social das fotos, da rede social dos textos, da rede social corporativa, da rede social que só os avós usam (mas que a gente ainda mantém, vai que a tia posta algo polêmico e a gente quer ver o circo pegar fogo). Enfim, uma verdadeira fauna de aplicativos que domina nossa tela e, de quebra, nossa atenção.
E aí vem o pior: além de usar o celular pra resolver tudo (e talvez por isso mesmo), a gente transformou ele na mais eficiente máquina de procrastinação já inventada. Tinha que responder aquele e-mail? Abri o Instagram. Ia pagar uma conta? Dei play em um vídeo de um borde colie que ajuda no parto de uma vaca. Precisava dormir cedo? Fiquei vendo vídeo de gente reformando cozinha em silêncio. A tecnologia nos prometeu produtividade, mas nos entregou um mundo infinito de distrações.
Estamos tão conectados que esquecemos de desligar. E olha, às vezes desligar faz bem. Nem que seja por cinco minutos. Dez, se você for corajoso. Quinze, se for revolucionário. Porque, no fim das contas, o mundo continua girando, mesmo quando a gente deixa o celular de lado. E talvez, só talvez, a vida seja um pouquinho mais leve sem o peso desse retângulo brilhante no nosso bolso.
Mas enfim… deixa eu parar por aqui. Preciso conferir uma coisa rapidinho no celular. Só um minutinho.
