Falta menos de um ano para as eleições, e eu já começo a perceber as movimentações políticas que anunciam o que vem por aí. É quase como sentir a mudança do tempo: o ar muda, as conversas mudam, e o noticiário se torna cada vez mais previsível. Já disse outras vezes e sigo acreditando que a extrema direita perderá força no país.
Oito anos atrás, eles tinham o controle da narrativa. Eram hábeis em criar medo e insegurança, e faziam isso com uma pauta moral agressiva, apelando para a ideia de que havia uma ameaça constante à “família tradicional”, à “moral”, à “infância”. Tudo muito calculado. O fantasma da “ideologia de gênero” nas escolas era usado como se fosse uma cruzada civilizatória. Mas, no fundo, nada disso tinha relação com os problemas reais da população. Era apenas um espantalho, uma forma de manter as pessoas alarmadas, enquanto o país se desorganizava.
A direita brasileira, aliás, tem demonstrado enorme dificuldade em propor soluções concretas. Prefere inventar inimigos imaginários a enfrentar as desigualdades, o desemprego, a fome. Enquanto isso, o governo federal vem entregando resultados concretos. A economia dá sinais de estabilidade, o mercado de trabalho está aquecido, as relações internacionais se restabelecem, e a inflação deve fechar o ano entre as mais baixas dos últimos tempos. É um contraste gritante.
E, justamente por isso, a direita tentará, mais uma vez, retomar o controle da narrativa. Já está tentando. Mas, como a pauta moral se desgastou, escolheram um novo terreno para manipular: a segurança pública. É nítido. O discurso agora se desloca para o medo da criminalidade, a promessa de “lei e ordem”, a defesa de ações violentas disfarçadas de soluções.
A operação policial desastrosa no Rio de Janeiro há poucos dias é um exemplo cruel disso. Mataram pessoas inocentes para ganhar votos, para criar manchetes, para reacender o medo. E agora tentam emplacar a ideia de que traficantes devem ser equiparados a terroristas. Um discurso perigoso e populista. Isso não só desumaniza parte da população, como também abre brecha para algo ainda mais grave: a interferência de potências estrangeiras, inclusive os Estados Unidos, em assuntos internos do Brasil.
O que está em jogo, mais uma vez, é a narrativa. O poder de contar uma história que justifique a barbárie. Mas eu acredito que o Brasil aprendeu. A manipulação tem prazo de validade, e a política do medo já não convence como antes. O que a população quer e precisa é segurança, sim, mas também dignidade, emprego, renda, saúde e esperança. E é isso que, no fim das contas, decide eleições.
