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Ainda falta descobrir muita coisa em nosso mundo caótico

Quando chegamos a este lado da existência somos uma lousa em branco. Estamos preparadas para receber a programação que irá nos guiar durante toda nossa jornada. Chegamos sem medos, preocupações, preconceitos… e por algum tempo será essa a nossa forma de agir… afinal, ainda não teremos descoberto as nuances deste mundo caótico no qual fomos inseridas…

Durante boa parte de nossa primeira infância essa percepção inocente irá nos acompanhar. Afinal, mesmo que mais tarde soframos a interferência das pessoas que gravitam ao nosso redor, essa nova ordem será gravada aos poucos. Não é uma ação que ocorre de um instante para o outro. Nossa aprendizagem é feita em doses homeopáticas, uma gota por vez…

Enquanto crianças, não temos nenhum tipo de preconceito, não importa por qual cartilha nossos genitores rezem. Para nós o mundo é um imenso parque de diversões e todos os seres vivos são parceiros de nossos folguedos. Sejam pessoas ou animais…

Nessa fase não existe preconceito de raça, cor, gênero, status social… simplesmente queremos socializar com tudo e com todos. Ainda não nos foi imposta uma regra de condutas. Somos crianças e, por algum tempo, nos permitem viver nesse mundo maravilhoso onde não há cobranças sobre nossa forma de agir. Aos pouquinhos vão nos incutindo algumas regras. Primeiro, a noção de gênero. O que é permitido para uns e não para outros. É quando nos é incutida a noção de “sexo” e todas as suas implicações. Meninos são guiados para um caminho, meninas para outro. Mas essa divisão ainda não é assim tão forte… temos permissão para interagir todos juntos… e até admitem que brinquemos junto ao outro gênero, por vezes assumindo o papel deste em nosso mundo de faz de conta. Claro que, à medida que vamos amadurecendo, essa liberdade será pouco a pouco tolhida. Afinal, temos uma missão a cumprir e devemos seguir aquilo que é esperado de nossa parte…

Aos poucos vamos sendo inseridas em novos grupos sociais e suas regras vão se agregando àquelas que já nos foram incutidas. Mas ainda não é um sentimento tão forte assim, tanto que ainda continuamos interagindo com todos, sem divisão de espécie alguma. Mas conforme vamos galgando novos degraus na escada da vida, vamos ficando mais seletivos. Aquela programação que recebemos desde o berço começa a rodar e a partir desse momento nossas convicções vão sendo criadas, baseadas naquilo que o grupo no qual estamos inseridas acredita ser o correto…

É a partir da adolescência que começamos a nos dividir de acordo com os parâmetros estipulados pela sociedade na qual estamos inseridos. É um processo quase imperceptível, mas que avança de tal forma que, quando percebemos, a maneira como vemos o mundo mudou completamente. Aquilo que a pouco tempo nos era algo prazeroso de repente se torna algo estranho, perigoso…

Certos conceitos nos são incutidos como verdades absolutas, mesmo que venham embrulhadas em embalagens lindas e maravilhosas. A amizade que tínhamos até a pouco será desfeita porque a pessoa que nos era tão cara a pouco tempo foi classificada como “perigosa” para nossa integridade física. Porque ela pertence a um outro grupo social, porque ela pertence a outra raça, porque ela é de outro gênero… não importa o motivo. Importa que ela representa perigo para nós, e deve ser expurgada de nosso grupo, devemos esquecê-la…

Engana-se quem pensa que esquecer as pessoas que nos foram importantes é algo difícil. Nossa mente é seletiva, e não guarda informações consideradas sem importância. E, nesse caso, essa pessoa passou a ser considerada “sem importância” em nossa vida…

Sim, eu sei… há pessoas que marcam, e muito, nossa vida. Mas tenha certeza que a outra parte não sente o mesmo que nós. Se assim fosse, não teria havido esse afastamento. O problema é que, conforme vamos amadurecendo, nossas prioridades vão se modificando. Principalmente as do coração. O fato de apaixonar-me por alguém não significa que haverá reciprocidade. Geralmente, não há. Porque há uma série de fatores que fazem com que uma pessoa venha a se interessar por outra. E muitas vezes não correspondemos à expectativa de nosso objeto de desejo…

Sim, viver é complicado. Mesmo que seja simples. Aliás, esse é o paradoxo da Vida. Ao mesmo tempo que viver é algo simples e prazeroso, é também uma caixinha de Pandora, onde as surpresas que nos são reservadas nem sempre são agradáveis. Fazemos tantas distinções entre nós que no final estamos envoltas em um verdadeiro Samba do Crioulo Doido… simplesmente não vemos uma saída fácil para os problemas que enfrentamos. Mas assim é a vida, não é mesmo? Portanto, só nos resta continuar a navegar nesse mar imenso que é a vida, tentando resgatar a inocência de nossa infância, quando o Mundo se apresentava a nós como um imenso Jardim, onde podíamos ser nós mesmas, sem medos, sem preconceitos… podíamos ser felizes, simplesmente…

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