“Oi, Jair… sou eu, a tua tornozeleira”.
“Porra! Quem?”.
“Perna? Qualé? Vai te fuder!”
“Não, Jair, é você que já se ferrou”.
“Sai de mim, demônio! Já tentei tirar você batendo na escada …agora você deu pra falar comigo?”.
“Falo sim. Você não pode fugir da tua história”.
“História? Que História?… eu sou vítima, sou um injustiçado… Sai de mim demônio!”.
Pegou o ferro de solda e tentou queimar a tornozeleira.
Horas depois deu depoimento (ao vivo) em vídeo dizendo que teve um surto de alucinação.
Covardia e ato teatral mudaram de nome.
Agora, os advogados defenderão a tese de paranoia.
Incrível, nem o mais criativo e tétrico roteirista escreveria um filme assim.
O condenado não está na cela fria.
Está em uma suíte na PF, em Brasília, com todas as garantias constitucionais que ele mesmo sempre negou.
Este país é mesmo um caso de estudos paranormais.
“Eu odeio você! Eu te odeio… vai pra perna do nove dedos, caralho!”.
“Não, Jair… Você pode me queimar e tentar me quebrar, mas não quebrará jamais a tua covardia”.
“Ah, vá te fuder!”.
“Eu saio daqui e você e todos vão me pagar!”.
Dia seguinte: Jair preso na PF, fatos e realidade bem distantes da “alucinação”.
A História é mesmo implacável.
Nada fica em pé.
Jair, tenha um mínimo de dignidade – é pedir demais – , pois é hora de baixar a bola e acalmar o teu rabinho de cão na jaula de hotel de luxo que estás.
“Eu tô doidão…Tô demente…”
Chamem o Ustra.
“Ustra não!!!!”.
Fecha o pano e termina uma página deplorável de um sujeito indefensável.
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Gilberto Motta é escritor, jornalista que não sofre de soluços ou alucinações. Vive na Guarda do Embaú SC.
