Notibras

Amigo é como a árvore florida que mesmo ao longe finca suas raízes

Voltar a morar em Brasília me trouxe muitas coisas boas. O céu mais bonito do mundo, os ipês que explodem em cor quando menos se espera, a comida com gosto de saudade, os caminhos já conhecidos. Mas a melhor parte, sem dúvida, foi poder reencontrar os amigos. Gente que faz parte da minha história, das minhas memórias e do que sou.

Reencontrar um amigo depois de tanto tempo foi como abrir uma janela esquecida num cômodo antigo da minha alma. A luz entrou de repente, cheia de poeira dançando no ar, revelando móveis cobertos de saudade — mas ainda ali, intactos. Era aquele cheiro de casa antiga que, longe de incomodar, me lembrou de quem eu fui e quem ainda sou quando estou com quem me conhece de verdade.

O abraço não foi só físico. Foi uma troca silenciosa de memórias. A gente se olhou e já sabia. Os olhos falaram primeiro, depois vieram os sorrisos e, por fim, as vozes, tropeçando no tempo, tentando recuperar as conversas interrompidas. Foi como se o tempo tivesse feito uma pausa só para esse momento acontecer. E a alegria… ah, essa não gritou — ela aqueceu. Como brasa que nunca se apagou, só esperava o sopro certo.

Difícil explicar, mas estar de novo com esse amigo foi como reconhecer o cheiro de um livro que amei muito. Não importa quantos outros eu tenha lido, aquele sempre teve um lugar reservado na estante do meu coração.

Recordo de Vinicius de Moraes, que dizia que “a gente não faz amigos, reconhece-os”. E quando o reencontro acontece, é esse reconhecimento que pulsa em mim. Como se dissesse: “eu estive aqui o tempo todo, mesmo longe, mesmo em silêncio”. Porque algumas presenças não se apagam com a ausência. A amizade verdadeira sobrevive ao tempo, ao espaço e até à falta de notícias. Como o soneto, ela é breve e infinita ao mesmo tempo.

Imaginar esse reencontro em forma de imagem é fácil: foi como encontrar uma árvore que plantei na adolescência e que agora me dá sombra. Passei a mão no tronco, reconheci cada curva, cada marca, e entendi que, mesmo sem regar por um tempo, essa amizade criou raízes profundas.

Gosto de pensar que ali, debaixo daquela copa, me sentei de novo, não para recomeçar, mas para continuar. Como quem reencontra o seu lugar no mundo.

O que ficou claro pra mim, mais do que tudo, é que existem laços que nem o tempo, nem a distância, nem o silêncio conseguem desatar. E reencontrar esse amigo foi me reencontrar também.

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