Notibras

‘Amigo é pra essas coisas…’, inclusive quando se trata de moçoilas imaculadas

-E aí bonitão? Tudo resolvido? perguntou, Odilon.

-Namoro oficializado? replicou, Plínio.

-Quase…murmurou, RC, mas tenho que tirar uma pedra do caminho…e vai ser agora!

De pronto, RC sacou o celular do bolso da camisa e começou uma conversa por whatSapp, sempre observado pelos amigos, ambos muito curiosos. Após vinte minutos de conversação, ele colocou o aparelho na estante ao lado da cama e balançou a cabeça em sinal negativo.

-Renata não concordou em reduzir o prazo do nosso acordo para oficializarmos a separação, falou o jovem, desolado.

-Ah, então é isso! Vais ter problemas para cortejar oficialmente a moça, intuiu Odilon.

-Pois é, mas eu não vou desistir da Eduarda nem que a vaca tussa, asseverou, RC.

-Eita…agora estou acreditando que a coisa é mesmo séria, confessou, Plínio.

-Pode acreditar nisso, meu amigo! sussurrou, RC.

No dia seguinte, após terem tomado café, os três colegas dirigiram-se novamente para a sede da corporação.

-Hoje à noite vou visitá-la, confidenciou RC aos dois amigos.

-Ah, então podes fazer isso, admirou-se, Plínio.

-Sim, isso eu posso fazer. Mas mesmo que ela também goste de mim, se eu não desatar o nó da separação, vou ter que ir embora sozinho porque ela ainda não tem dezoito anos.

-Que situação, amigo! Mas se vocês dois se entenderem, podem esperar até a questão da tua separação se resolver, não é mesmo? Questionou, Odilon.

-Você não entende, eu iria ficar com a cabeça bugada…ela aqui e eu em São Paulo por mais três meses seria como queimar no inferno.

À noite, na hora prevista pelo protocolo das madrinhas, RC apresentou-se na sala de visitação do anexo à pousada Irmãs Imaculadas. Com o coração em estado de aceleração, viu Maria Eduarda se aproximar do sofá em que estava acomodado. Imediatamente, levantou-se para cumprimentar a pretendida.

-Então você veio mesmo, sussurrou a melodiosa voz da moçoila.

-Eu não deixaria de vir por nada desse mundo, Eduarda! Por todos os deuses, você está ainda mais linda do que ontem.

Sorrindo graciosamente, Eduarda pediu que RC se sentasse para conversarem.

-Fale-me sobre você, Roberto! Nós temos apenas duas horas por hoje… e quero saber tudo, disse pragmaticamente, Eduarda.

RC fez um resumo de quinze minutos sobre a sua vida pessoal, acadêmica, profissional e sobre as suas crenças espirituais/filosóficas, sendo que, aqui e ali, Eduarda fazia uma pergunta ou uma rápida observação.

-Olha, Eduarda, eu juro que vou resolver essa questão da separação o mais rápido possível.

-As madrinhas já tinham me contado sobre isso, Roberto. Vamos conversar sobre outras coisas… futuramente voltaremos a ver como progride essa questão legal.

Impressionado com a segurança, desenvoltura e lucidez da moça, RC concordou de pronto.

-Claro, sobre o que você quer conversar?

-Por exemplo, fale-me mais sobre como foi o seu casamento e porque não deu certo.

Cada vez mais impressionado, RC esmerou-se em explicar que ele e Renata se casaram muito cedo e que, passado um ano de convivência conjugal, descobriram que o sentimento que havia entre eles, na verdade, não era amor.

-Foi uma empolgação que depois revelou-se passageira, sem identificação, sem muitas afinidades e sem carinho mútuo. Vimos que queríamos coisas diferentes de uma relação a dois, afirmou ele.

-Entendo! Mas parece que ela ainda não está totalmente convencida disso, não é mesmo?

-Ela é muito sistêmica e cartesiana, acha que precisamos de um tempo mais longo separados para termos certeza.

-Hum…Descartes não é completamente descartável em uma análise proficiente dos meandros do amor, filosofou Maria Eduarda.

Embasbacado, RC perguntou:

-Você gosta de Filosofia?

-Gosto de ler…Filosofia, Literatura, História. E também aprecio muito assistir filmes, séries e documentários na Netflix.

Após essa revelação por parte da moça, os dois aprofundaram-se em trocar opiniões e comentários sobre os mais diversos assuntos contidos no amplo universo cultural dominado por ambos.

Repentinamente, Eulália entrou na ampla sala onde conversavam RC, Maria Eduarda e mais sete pares.

-Rapazes, por hoje o tempo acabou! Retornem depois de amanhã.

Ao ouvirem o aviso de Eulália, RC e Eduarda tiveram a mesma reação expressa no olhar: “mas já?”.

De volta ao quarto coletivo, antes que os dois amigos perguntassem algo sobre a “sessão do namoro”, RC falou para Odilon:

-Você tem que me ajudar com a Renata!

-Como assim, perguntou Odilon, sobressaltado.

-Ela não vai ceder se eu falar de novo sobre o prazo da nossa separação…mas você a conhece bem e pode interceder por mim.

-Você acha? Eu nunca falei com a Renata sem que ela estivesse com você…por que acredita que ela me daria ouvidos?

– Ela gosta do seu jeito e respeita o seu bom senso. Você pode conseguir convencê-la…

-Está certo então, posso tentar…mas hoje já é muito tarde. Amanhã na hora do almoço é um momento melhor para eu falar com ela.

-Eu não acredito no que estou ouvindo: Odilon vai advogar para o Roberto junto à Renata! O mundo está mesmo perdido, espantou-se, Plínio.

Na hora do almoço, Odilon cumpriu a promessa feita ao amigo, mas após concluir o diálogo por whatsap com Renata, falou:

-Sinto muito, amigo, nada feito!

À medida em que as “sessões de namoro” se sucediam, RC conseguia ficar cada vez mais apaixonado por Maria Eduarda, até que, no último colóquio entre os dois, antes que Eulália desse a noite por terminada, RC arriscou dizer à bela o que ia no seu íntimo:

-Eu daria qualquer coisa para ficar sozinho com você…

-Eu também quero, Roberto…olha, desde o nosso primeiro encontro lá no posto, você já deve ter observado que eu não tenho alma de freira, né?

-Sim, falou RC, esperançoso, você estava fumando e sei que isso é proibido pelas tuas madrinhas, não é mesmo?

-É sim…mas precisamos ter cuidado. Você tem um plano para ficarmos a sós? Radiante, RC assegurou à amada:

-Vou ter, minha querida! Te falo no nosso próximo encontro!

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A quinta (e última parte) será publicada na sexta, 2.

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