“Sentindo o frio em minha “alma” / Ti convidei pra dançar…”
(1950)
Naquela noite ela chegou ao bar da rádio Nacional e peitou o homem:
“Amor de minha vida, tesão! Sem você, nada mais será como antes”.
O homem de terno corte fino e cabelo brilhantinados, olhou nos olhos da tigresa e disse:
“Sai daqui vampira, nojenta”.
No pequeno palco do bar, o regional de Evandro tocava uma canção que ficaria para sempre:
A Dama do Cabaré.
(1960)
“Minha cabeça rolando/rolava mais que os casais/ e o teu perfume, Gardenia, e não me perguntes mais”.
A mesma mulher entrou no mesmo bar da mesma rádio Nacional e peitou o mesmo home:
“Amor da minha vida, tesão! Eu já lhe disse que nada será como antes”.
No mesmo pequeno palco, o mesmo regional de Evandro tocava a mesma canção:
A Dama do Cabaré.
(1970)
“Eu hoje me embriagando de wisque com guaraná; ouço tua voz murmurando: São dois prá lá, dois prá cá”.
Finalmente saíram do bar, desceram pelo elevador e ganharam a Praça Mauá. Pararam no inferninho Paquetá e beberam dois cubas e vários rabos de galo.
Aninharam-se numa cama desgrenhada de um hotelzinho de mixê no Largo da Lapa.
(1980)
Encontraram os corpos dos dois abraçados naquela manhã de quarta-feira de cinzas depois de desfilarem pela Mangueira.
Ela, vampira de batom carmim borrado na boca pecaminosa e o homem de cuecas samba-canção e com o cabelo irretocavelmente brilhantinado.
Naquela noite, o regional de Evandro tocou várias vezes A Dama do Cabaré.
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Gilberto Motta é escritor, jornalista e professor/pesquisador, apaixonado pelos bons tempos do rádio, das musas e mitos e tudo o que envolve dramalhões e casos de amor. Vive na Guarda do Embaú, vilarejo pesqueiro no litoral Sul de SC.
