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Ancelotti aposta na lógica do futebol para fazer o Brasil campeão de novo

Tenho observado, com a devida cautela (e um certo deboche contido), os primeiros passos de Carlo Ancelotti à frente da seleção brasileira. E confesso: estou gostando. Sim, senhoras e senhores, o primeiro técnico estrangeiro da história da nossa gloriosa Seleção Canarinho parece estar, aos poucos, compreendendo a complexa ópera que é o futebol brasileiro — com seus tenores decadentes, seus jurados histéricos e sua claque de comentaristas que ainda vive em 1994.

Claro, tudo ainda é muito inicial. Ancelotti está tateando o terreno, se ambientando, se acostumando com o calor, com o barulho, com o feijão tropeiro e, principalmente, com a imprensa esportiva nacional — essa entidade mitológica que mistura previsão astrológica com análise tática e indignação performática. Ele ainda não sabe, por exemplo, que aqui técnico bom é o que escala “meu time”. E que se a gente ganhar jogando feio, está tudo certo; se perder jogando bonito, ele vai cair.

Mas o que tem me agradado — e muito — é o fato de o italiano estar se esforçando para aprender português brasileiro. Isso, pra mim, é um sinal de respeito. Um estrangeiro que pisa aqui e, em vez de tentar ensinar o mundo ao Brasil, tenta entender o Brasil no mundo. Profissionalismo puro.

E quanto à escalação… ah, aí é que está o ponto alto da era Ancelotti: ele está convocando os melhores. Em cada posição. Veja bem, isso deveria ser o óbvio ululante, mas, no Brasil da cartolagem e dos “homens de confiança”, essa atitude soa quase anárquica. Ancelotti parece achar que lateral-direito tem que saber cruzar, que zagueiro tem que saber marcar, e que centroavante precisa, veja só, fazer gols! É uma ousadia perigosa essa de usar critério técnico.

No mais, sigo acompanhando. Com alguma esperança e uma dose generosa de ironia. Porque o futebol brasileiro, como a vida, raramente decepciona: quando não emociona, pelo menos rende boas piadas.

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