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Angu vira tradição carioca e salva o velho português

José Escarlate

Um português, Manoel Gomes, veio tentar a vida no Brasil. A coisa estava pesada em Portugal. Decidiu colocar em prática a sua ideia de comercializar uma iguaria trazida pelos escravos africanos  para o Brasil.

Era o angu, uma papa de farinha de milho, servida com carne ensopada com miúdos e que seria vendida nas noites cariocas. Mãos à obra, em uma pequena cozinha no Largo de São Francisco da Prainha, na Saúde, deu início à produção.

Espalhou, em princípio, 10 carrocinhas pela cidade. Era o Angu do Gomes que nascia. O sucesso foi imediato, alcançando até a zona boêmia de Copacabana. Frequentei muito o Angu do Gomes, sentado no meio fio da calçada, na Praça XV. Ele era servido em prato de alumínio e se comia de colher.

Em início de carreira, Sérgio Mendes, Tom Jobim e até o produtor musical Armando Pittigliani, dono da gravadora Sinter, iam à Praça XV para comer o angu, na famosa carrocinha.

Na saída dos bailes dos clubes, o carioca ia saborear o Angu do Gomes na Praça XV à meia noite, sem medo de nada . As noites e madrugadas cariocas eram regadas a muita agitação e descontração.  Outro frequentador assíduo foi o bem nascido Jorginho Guinle, que inclusive espalhava aos quatro cantos que o Angu do Gomes era afrodisíaco.

Segundo consta, até o presidente Juscelino Kubitscheck, sempre que vinha ao Rio, encomendava o angu, que ganhara a fama de alimento ideal para um dia duro de trabalho ou uma boa noitada. O Angu do Gomes se transformou num marco no paladar de políticos, boêmios e trabalhadores da madrugada carioca. Virou tradição.

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