Notibras

Anísia, 72 anos, pentecostal, progressista e sem papas na língua

Hoje minha mãe, Anísia, completa 72 anos. Ela é uma senhorinha magra, de cabelos completamente brancos, daquelas que parecem carregar no olhar uma serenidade antiga. Desde que me entendo por gente, ela frequenta a igreja evangélica pentecostal. E foi nesse ambiente que cresci, ouvindo hinos, orações e histórias de fé.

Mas não se engane com a aparência frágil ou com o rótulo de “senhorinha evangélica”. Minha mãe é progressista, de pensamento aberto, e defende pautas que muita gente da própria igreja dela preferiria evitar. Já a vi discordar com firmeza, argumentar com lucidez e se posicionar do lado do que acredita ser justo, mesmo quando isso significava remar contra a maré.

Ela tem seus defeitos, como todo mundo. Às vezes é teimosa, às vezes fala sem rodeios o que pensa. Mas é exatamente essa mistura de fé e coragem, de doçura e convicção, que a torna tão especial.

Foi ela quem me ensinou a me defender das outras crianças, a não baixar a cabeça diante de injustiças, a encontrar força mesmo nas horas mais difíceis. Talvez sem saber, minha mãe me ensinou que ser forte não é o oposto de ser sensível, e que a fé pode caminhar lado a lado com o pensamento crítico.

Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos ao longo da vida (e não foram poucas), minha mãe nunca perdeu o bom humor. Sempre encontrou um jeito de rir, mesmo nas situações mais improváveis, e de transformar o que era dor em leveza. Acho que foi com ela que aprendi a ser engraçada, a usar o riso como abrigo e resistência. O humor dela é simples, espontâneo, às vezes até debochado, mas sempre cheio de ternura. É o tipo de alegria que atravessa o tempo e, de algum modo, me ensina todos os dias a não deixar a vida me endurecer.

Hoje, ao olhar pra ela, com seus cabelos brancos e seu sorriso tranquilo, eu vejo a mulher que moldou boa parte do que sou.

Sair da versão mobile