O ano de 2025 tem sido um funeral a céu aberto. Como escreveu Walter Benjamin, “o passado não passa: se repete como farsa ou como tragédia.” Mas este ano, tem escolhido repetir como tragédia. Uma morte atrás da outra nos deixa num torpor coletivo. Políticos, artistas, líderes espirituais. De Sebastião Salgado à Preta Gil, passando por Divaldo Franco e o coreógrafo Décio Otero, parece que os bons estão indo embora com uma impunidade dolorosa.
A repetição do luto em tão curto espaço de tempo não é natural, é sintoma. É Bourdieu nos mostrando que as elites morrem, mas o desespero popular permanece vivo. É Foucault mostrando como o avanço da medicina e da longevidade não alcança aqueles que adoramos. É Agamben, falando do estado de exceção contínuo: nossas vidas são precárias, até na despedida.
Lembro que, quando morre um poeta, morre a língua; quando morre um ativista, morre a esperança; quando morre quem nos fazia rir, morre uma infância inteira. Mas as mortes de 2025 vêm com a crueldade adicional da repetição, da crônica anunciada que desconhece o stand-by do coração.
Que esse 2025 macabro nos acenda a urgência de revisitar o afeto, de defendê-lo, escrever para ele, plantá-lo de novo no centro do nosso mundo. Porque só a vida pode homenagear os que partiram, e o melhor tributo que podemos lhes fazer é cuidar dos vivos.
