Fabiana Saka, não por acaso, foi escolhida para estrear a nova coluna do Café Literário, de Notibras, Como Nasce um Livro, que aborda o processo de criação e produção de uma obra selecionada na bibliografia de seu autor ou sua autora. É que, além de adorar cinema, é amante de café e literatura.
Fabiana é carioca, atuando como psicóloga clínica no Rio de Janeiro há 13 anos, onde se formou pela Universidade Santa Úrsula, com especialização em Terapia Familiar e mediação de conflitos.
Seu livro, As Aventuras de Daniel: não tenha medo de si mesmo (Ases da Literatura, 2024, ilustrações de Gui Correa) traz como personagem central Daniel, um garoto inteligente e cheio de imaginação, conhecido na escola por ser o “mestre das travessuras”. Entre piadas, invenções criativas e brincadeiras nem sempre bem recebidas, ele tenta conquistar a amizade e aprovação dos colegas. Porém, seu jeito de agir acaba afastando aqueles que mais valoriza, fazendo com que sinta a dor da rejeição.
Diante dessa experiência, Daniel passa por um processo de amadurecimento. Com a ajuda dos pais, do ambiente escolar e do encontro com uma pessoa especial, ele aprende lições valiosas sobre respeito, sinceridade e, sobretudo, confiança em si mesmo.
A obra ganhou o Prêmio Literário Clarice Lispector 2025, na categoria de melhor ilustração.
A seguir, o papo que a autora teve com o Café Literário por e-mail, dando mais detalhes sobre o livro:
Como nasceu a ideia do livro?
A ideia do livro As aventuras de Daniel nasceu da necessidade de criar uma ferramenta que oferecesse suporte emocional para crianças e adolescentes.
Percebendo que a comunicação entre escola e família é fundamental para o bom desenvolvimento das crianças e adolescentes, parte da ideia era o livro servir de ponte entre escola, pais e psicólogos, promovendo colaboração entre os envolvidos na educação e bem estar do jovem.
Conte-nos sobre o processo de escrita. Quando começou, quanto tempo durou, que percalços ou coisas boas aconteceram pelo caminho?
Apesar da história de Daniel estar bem definida em ideias, colocar no papel não foi simples, nem rápido. O texto foi escrito no início de 2024. Até ficar completamente finalizado, levou em torno de dois meses. Foi desafiador escrever a história de forma simples. Apesar de não ser complexa, escrever de maneira acessível é mais difícil do que parece. Além disso, cortei partes desnecessárias, fui entendendo o que contribuía ou não para a história.
A insegurança sobre minha capacidade de escrever uma boa história e do tema não ser interessante para envolver o público infantojuvenil foi forte. Foi necessário relembrar que as demandas que recebo no ambiente terapêutico mostravam que sim, a história de Daniel não somente era boa, como necessária para trabalhar com crianças e pré-adolescentes.
Como foi a edição e comercialização do livro? Fale sobre a escolha da editora.
O processo de edição foi dentro do esperado. A editora fez a revisão do texto, garantindo que a narrativa estivesse correta gramaticalmente, como também acessível para o público infantojuvenil.
A diagramação e as ilustrações foram feitas pelo ilustrador Gui Correa.
A comercialização planejada foi estratégica. Foram feitas algumas ações de marketing, direcionadas a escolas, que ajudaram a criar um vínculo direto com o público-alvo.
A editora trabalha com o sistema de tiragem sob demanda, o que elimina a necessidade de maiores custos.
A escolha pela editora Ases da Literatura foi minha. Não tenho conhecimento na área, mas minha opção era contar com sua expertise para que o livro tivesse os cuidados necessários. Ela foi muito atenciosa, cumprindo todas as suas partes nos combinados e fornecendo, quando solicitada, todo o suporte necessário.
O que este livro representa para sua autora?
O livro representa a reprodução, em literatura, da minha experiência em Psicologia Clínica. Nessa história foram refletidos alguns dos desafios, experiências e dificuldades de vida que os pacientes trazem, às vezes de coração aberto, outras vezes nem tanto, sendo necessário um processo de adaptação e confiança na relação terapêutica.
Tem outros livros ou projetos literários?
Sim. As Aventuras de Daniel II será lançado em 2026. Daniel estará um ano mais velho, ainda lidando com as imaturidades naturais da fase, auxiliado pela psicóloga Ana
Fale-me mais sobre o personagem Daniel. Ele é inspirado em alguém real, ou surgiu inteiramente da sua imaginação?
Daniel foi inspirado nas histórias trazidas por adolescentes no ambiente terapêutico. Algumas histórias engraçadas, outras muito longe de serem próprias para eles haverem experienciado, independentemente da fase da vida.
Houve alguma cena ou capítulo que foi mais difícil de escrever? Por quê?
O capítulo em que Daniel cria histórias fantasiosas por se envergonhar de sua própria vida, necessitando dessa ação para ser interessante ao olhar dos outros, foi a parte mais desafiante. Devido à história ter ingredientes da vida real, enquanto escrevia eu lembrava bastante dos relatos trazidos pelos pacientes. Em alguns momentos fui até orientada a desenvolver melhor e aprofundar sobre a vida de Daniel, mas achei desnecessário: traria um peso que não faria uma diferença positiva na história.
Qual a importância das ilustrações de Gui Correa para a narrativa?
As ilustrações do Gui Correa deram personalidade ao Daniel e à psicóloga Ana. Com elas, as crianças e adolescentes ficam mais conectados com os personagens, tornando-os memoráveis, gerando identificação em algumas situações.
De que forma a sua experiência como psicóloga influenciou a escrita do livro? Acredita que livros como este podem ser usados em escolas e consultas terapêuticas? Como?
Minha experiência como psicóloga clínica atuou diretamente na compreensão e conhecimento sobre o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Os caminhos e desafios dessa fase da vida, trazidas por eles nas sessões terapêuticas, mostraram que, muitas vezes, esses jovens não se sentem confiantes em pedir ajuda quando estão em dificuldades, principalmente quando os próprios foram os causadores de algum conflito ou problema. Tentam resolver por si, o que acaba, na maioria das vezes, piorando a situação. Dessa forma, o livro foi criado para a orientação não só do próprio jovem, como também para as escolas e pais, que também são personagens da trama.
É fundamental que escolas, pais, e profissionais terapeutas trabalhem com as crianças e adolescentes a importância de ter alguém de sua confiança para pedir ajuda quando necessário. Afinal, os erros e dificuldades fazem parte da nossa caminhada, e o apoio de alguém de nossa confiança é fundamental no caminho do amadurecimento.
Que mensagem gostaria que pais e professores extraíssem da leitura?
A mensagem passada é a importância de pais, escola e psicólogos estarem alinhados para a observação do jovem e o melhor encaminhamento possível, quando se fizer necessário.
Entender o mundo, agir com sensatez diante das situações que se apresentam, é mais difícil do que parece.
O prêmio de melhor ilustração trouxe novas perspectivas para sua carreira de escritora?
O prêmio de melhor ilustração deu maior credibilidade e visibilidade ao trabalho. O que antes era uma dificuldade, foi amenizado e proporcionou oportunidades importantes, que estimularam a ideia de outros trabalhos.
Que autores ou obras marcaram sua infância e a influenciam até hoje?
Quando criança, infelizmente, tive pouco contato com a leitura. Apenas na adolescência que desenvolvi o hábito. Dentro desse período, os livros que me marcaram e tenho até hoje no coração são Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcellos, e A Árvore Generosa, de Shel Silverstein.
Qual foi a reação dos seus pacientes ou de crianças próximas quando conheceram o livro?
Os pacientes adultos, que são maioria, principalmente os mais antigos, ficaram orgulhosos pelo projeto do livro. Boa parte deles foram ao lançamento levando seus familiares. Ficaram com a sensação de que o livro também era parte de cada um deles, pois sabiam do projeto anteriormente.
No caso das crianças e adolescentes, cada um que atendo faz a leitura e interpretação da história. Alguns, inclusive, defendem que se passar como jovem interessante é importante para conseguir se inserir em um grupo, ou ganhar aquela amizade que lhe interessa. Em suma, ou conhecem um Daniel, ou se identificam com o próprio.
Como concilia a rotina clínica com a escrita literária?
A escrita literária foi utilizada como um recurso para demonstrar algumas questões vivenciadas pelos pacientes dentro e fora do espaço terapêutico.
É importante pontuar que a história contada é fruto do meu dia a dia, isto é, muito pouco na história foi modificado para a experiência de descrever essas situações. Dessa forma, não foi necessário um longo tempo de escrita, a ponto de atravessar o tempo de trabalho de psicóloga clínica.
Já pensou em explorar (ou já explorou) outros gêneros, como contos, poesia ou romances?
Sim, tenho em mente escrever um livro de contos adultos, também levando em considerações as diversas histórias e experiências ouvidas no consultório clínico.
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As Aventuras de Daniel: não tenha medo de si mesmo (Ases da Literatura, 2024, 32 p., ilustrações de Gui Correa – ISBN 9786598392321) pode ser adquirido através de alguns links da internet, inclusive:
https://asesdaliteratura.com/nosso-catalogo/as-aventuras-de-daniel-nao-tenha-medo-de-si-mesmo/
