O Ar, enquanto elemento natural e simbólico, é reconhecido em diversas tradições como princípio vital. No esoterismo ocidental, o Ar é um dos quatro elementos que estruturam a cosmologia hermética. O elemento Ar é, desde as tradições mais antigas, símbolo de vitalidade, movimento e espiritualidade. Os gregos o conceberam como pneuma, o sopro divino que anima a matéria; os hindus o denominam prāṇa, a energia vital que circula pelo corpo através da respiração; no Gênesis (2:7), lê-se: “Deus soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem se tornou alma vivente”. O Ar, portanto, simboliza o sopro divino, a Criação. Essas concepções convergem para a compreensão do Ar como força invisível, mas indispensável à vida e ao equilíbrio cósmico.
O símbolo tradicional do Ar é o triângulo equilátero voltado para cima, que lembra o sigilo do elemento Fogo, cortado por uma barra horizontal (△̶). Segundo o mago Eliphas Lévi, o emblema exprime a “ascensão do espírito moderada pela razão”, evidenciando a ligação entre pensamento e equilíbrio.
O conceito de silfides como elementais do Ar foi sistematizado por Paracelsus no século XVI, que organizou as inteligências elementares em quatro categorias: gnomos (Terra), undines (Água), sylphs (Ar) e salamandras (Fogo). Paracelsus descreve os silfos como seres sutis, ligados ao vento e às alturas, capazes de inspirar poetas e magos, mas também dotados de ordem própria, não sendo meros “instrumentos” humanos. Na literatura posterior (romântica e esotérica), os silfides assumem variantes de caráter benéfico ou travesso, e a Golden Dawn e outros sistemas mágicos modernas os integram em trabalhos de evocações elementais. A Sociedade Secreta Golden Dawn incorporou essas entidades do Ar em rituais de invocação, relacionando-os a processos de inspiração e intuição.
Alquimicamente, o Ar corresponde ao princípio da sublimação e à passagem entre dissolução (Água/mercúrio) e combustão (Fogo/enxofre), É o veículo que eleva as essências voláteis, permitindo operar a coagulatio e a sublimatio. Trabalhos de destilação, ventilação do athanor e fervuras no caldeirão dependem do domínio do princípio aéreo; metaforicamente, o mago precisa “arejar” a mente para receber visões da Grande Obra.
Cornelius Agrippa associa o elemento Ar ao planeta Mercúrio, cujas virtudes são a inteligência e a comunicação. No zodíaco, Gêmeos, Libra e Aquário são regidos pelo Ar, ligados à racionalidade e à socialização.
No tocante às correspondências esotéricas, as cores que representam o elemento Ar são amarelo e branco, as pedras são o quartzo, citrino, topázio; o dia, quarta-feira.
Do ponto de vista religioso, o Ar está presente nos rituais como mediador entre o visível e o invisível. O uso do incenso, por exemplo, remete ao movimento ascendente da fumaça que leva preces ao sagrado. Rituais de purificação pelo sopro, demonstram a convicção ancestral de que o vento e a respiração podem expulsar forças negativas e renovar o espírito. Ainda hoje, em práticas mágicas contemporâneas, penas, sinos, fumaça e palavras entoadas são usados como instrumentos de harmonização e consagração.
Israel Regardie relata que, nos rituais da Golden Dawn, a invocação de silfides era feita para ampliar a clareza mental e facilitar a comunicação com planos superiores. Esses seres, na tradição mágica, são intermediários entre a consciência humana e as inspirações celestes, evocando imagens de leveza, liberdade e sabedoria. Entre os rituais contemporâneos destacam-se a Invocação de silfos, com uso de pena, incenso leve e sigilo do Ar, acompanhado de respiração consciente; na vidência com fumaça, são observadas imagens em espelhos ou névoas; na purificação verbal, são entoados cânticos e mantras para “arejar” a mente.
A dimensão simbólica do Ar encontra também sua aplicação prática em exercícios de meditação e respiração yogue, fundamentais para integrar corpo, mente e espírito. Uma das práticas mais conhecidas é a respiração alternada (Nāḍī Śodhana Prāṇāyāma), na qual o praticante inspira profundamente pela narina esquerda, retém o ar por alguns segundos e exala pela narina direita, repetindo o processo em fluxo inverso. Esse exercício equilibra os hemisférios cerebrais e favorece a clareza mental.
A meditação sobre o elemento Ar pode ser conduzida de forma visual e simbólica. O praticante senta-se em postura estável, contempla o sigilo do Ar diante de si ou mentaliza-o em luz dourada, ao mesmo tempo em que imagina estar envolto por ventos suaves e claros. Durante a prática, pode-se invocar mentalmente a presença dos silfides, pedindo inspiração e sabedoria, ou recitar mantras ligados ao sopro vital, como o So’ham (“Eu sou o sopro”), comum em tradições hindus.
Esses rituais reforçam a ligação entre o Ar, a fertilidade, a mente e a comunicação com o sagrado.
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Giovanni Seabra
Grão Mestre do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
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A Parte V será publicada na quarta-feira, 24
